17 junho 2015

A HISTÓRIA DAS INFECÇÕES

A História das Infecções*

                                                       Isac Jorge Filho**

                        A história das infecções perde-se na escuridão dos tempos. Papiros, como o de Ebers e o de Edwin Smith, decifrados de inscrições feitas até 3.000 anos antes de Cristo, já relatavam tratamentos de feridas infectadas realizados pelos egípcios. A ignorância quanto à origem das infecções e epidemias levava a “tratamentos” estranhos, sempre relacionados com a idéia de que a doença era causada por maus espíritos ou como castigo divino. Isso explica, por exemplo, a utilização de excrementos animais, e mesmo humanos, como recursos terapêuticos que buscavam, em última análise, “expulsar os demônios causadores da doença”. Esse pensamento se relaciona com a existência das “farmácias de sujeiras” que começaram no antigo Egito, continuaram com grande prestígio na Idade Média e, para alguns tratamentos, atravessaram o século XIX, chegando ao início do século XX. Enquanto isso, epidemias de infecções dizimavam populações e as feridas contaminadas eram quase sinônimos de morte. A Bíblia Sagrada, no livro de Samuel, do Antigo Testamento, relata dramaticamente a epidemia depeste bubônica que dizimou a população da cidade filisteia de Asdod e matou mais de 50.000 pessoas em Bet-Chemech, apesar de terem destruído com fogo os veículos de transporte e animais que vieram de Asdod. O uso do fogo era muito comum, já que se entendia que o ar carregava os demônios, ou o que fosse responsável pelas epidemias. Foram séculos e séculos de horror e morte por doenças infecciosas. A falta de conhecimentos fazia com que mudasse muito pouco o que os antigos médicos egípcios prescreviam para feridas infectadas: carne fresca, misturas à base de mel, soluções de sais de cobre e vários tipos de “misteriosas” ervas1. É interessante o uso de favos de mel pelos antigos egípcios, já que hoje se sabe que eles contêm uma substância, a inibina, produzida pelas glândulas salivares das abelhas, que apresenta atividade antimicrobiana2. Os astecas obtinham resultados excepcionais em relação às feridas e cirurgias superficiais porque tinham o hábito da limpeza local das mesmas. A índole guerreira deste povo talvez tenha facilitado essa percepção em função dos ferimentos bélicos. E este aspecto foi publicamente reconhecido por Hernan Cortez, que, ao ser ferido nas mãos durante a conquista do México, preferiu ser cuidados pelos “médicos” astecas do que por aqueles trazidos da Europa na sua companhia3. A preocupação com as feridas estiveram sempre presentes, em função, principalmente, dos ferimentos de guerra. Hipócrates, que viveu de 460 a.C. a 370 a.C., recomendava a seus discípulos, na ilha de Cós, que se lavassem as feridas com água fervida e vinho, trabalhando com mãos limpas. Galeno (131-201 a.C.) preconizava que as feridas fossem lavadas com vinho, suturadas com linho e cobertas com ataduras4. A partir daí pouco se evoluiu, sendo os tratamentos cirúrgicos evitados ao máximo, pois os resultados eram desoladores, uma vez que, quando o paciente não morria por hemorragia intra-operatória, acabava, na maior parte das vezes, morrendo por infecção. A situação perdurou até que, a partir da segunda metade do século XIX, o aprimoramento da anestesia e a compreensão das causas de infecção abriram caminho para o grande desenvolvimento da Cirurgia.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Jorge-Filho I. A descoberta dos antibióticos. Revista Ser
Médico out/nov/dez 2001; Conselho Regional de Medicina
do Estado de São Paulo. 17:37-39.
2. Craig CP. Preparation of the skin for surgery. Infection
Control 1986; 7:257-8.
3. de Paula RA. Cuidados com a região a ser operada.
In: Jorge-Filho I, Andrade JI, Ziliotto Júnior A. Cirurgia
geral: Pré e Pós-Operatório. São Paulo: Atheneu; 1995;
p.42-44.
4. Gonçalves R, Rivaben JH. Assepsia e Antissepsia. In:
Saad Júnior R, Maia AM, Salles RARV, editores. Tratado
de Cirurgia do CBC. São Paulo: Editora Atheneu; 2009;
p.181-196.
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                   * In  Jorge-Filho I - Cirurgia Geral: Pré e pós-operatório - Segunda Edição- Editora Atheneu. 

                         ** saudebioéticaecidadania.isac@gmail.com












14 junho 2015

VOZES D'ÁFRICA AINDA

“VOZES D’ÁFRICA” AINDA
                                                                                  ISAC JORGE FILHO

Todos os dias são noticiadas dezenas, centenas ou milhares de mortes de africanos. Quando a causa não é a fome, conseqüência da miséria e falta de apoio mundial, a indústria da guerra cuida de vender armas que sustentam lutas internas por terras ou colheitas, levando a massacres  de homens, mulheres e crianças, como ocorre no Sudão. A “ajuda” ocidental sempre ocorre após o caos. Mandam alimentos e roupas para os sobreviventes. Não se lembram de que um apoio tecnológico adequado e investimentos poderiam ter evitado a mortandade. Nos últimos tempos vem se tornando cada vez mais freqüentes os naufrágios de embarcações nas quais, como nos antigos navios negreiros, “comerciantes” lotam navios com africanos. O problema é que agora não são mais bem-vindos, como eram quando chegavam como escravos. Fogem de um continente devastado por  séculos de exploração. Buscam socorro em quem os explorou por tanto tempo, mas parece que as pessoas de pele clara jamais irão receber como irmãos aqueles de pele negra. Mesmo considerando o enorme débito que contraímos ao escravizar e explorar aquele continente.
Em 11 de junho de 1868, o poeta Castro Alves externou sua revolta por meio do impactante poema “Vozes d’África”.  Passado um século e meio, mais precisamente, 147 anos, a tecnologia conquistou enormes avanços, o Homem já pisou no solo lunar, mas é utilizada também para continuar explorando a África e os africanos. A Europa, que não teve cerimônias em ocupar o a África, se nega a receber os produtos humanos de sua exploração..
Diante de tudo isso é oportuno  pedir respostas a Deus, transcrevendo Castro Alves em seu “Vozes d’África”:

                  “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
                  Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
                  Embuçado nos céus?
                  Há dois mil anos te mandei meu grito,
                  Que embalde desde então corre o infinito...
                  Onde estás, Senhor Deus?...

                  Qual Prometeu tu me amarraste um dia
                  Do deserto na rubra penedia
                  ...Infinito: galé!...
                  Por abutre — me deste o sol candente,
                  E a terra de Suez — foi a corrente
                  Que me ligaste ao pé...

                  O cavalo estafado do Beduíno
                  Sob a vergasta tomba ressupino
                  E morre no areal.
                 Minha garupa sangra, a dor poreja,
                 Quando o chicote do simoun dardeja
                 O teu braço eternal.

                 Minhas irmãs são belas, são ditosas...
                 Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
                Dos haréns do Sultão.
                Ou no dorso dos brancos elefantes
                Embala-se coberta de brilhantes
                Nas plagas do Hindustão.

                Por tenda tem os cimos do Himalaia...
                Ganges amoroso beija a praia
                Coberta de corais ...

                A brisa de Misora o céu inflama;
                E ela dorme nos templos do Deus Brama,
                — Pagodes colossais...

                A Europa é sempre Europa, a gloriosa!...
                A mulher deslumbrante e caprichosa,
                Rainha e cortesã.
                Artista — corta o mármor de Carrara;
                Poetisa — tange os hinos de Ferrara,
                No glorioso afã!...

                Sempre a láurea lhe cabe no litígio...
                Ora uma c'roa, ora o barrete frígio
                Enflora-lhe a cerviz.
                Universo após ela — doudo amante
                Segue cativo o passo delirante
                Da grande meretriz.

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                Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada
                Em meio das areias esgarrada,
                Perdida marcho em vão!
                Se choro... bebe o pranto a areia ardente;
                talvez... p'ra que meu pranto, ó Deus clemente!
                Não descubras no chão...

                E nem tenho uma sombra de floresta...
                Para cobrir-me nem um templo resta
                No solo abrasador...
                Quando subo às Pirâmides do Egito
                Embalde aos quatro céus chorando grito:
               "Abriga-me, Senhor!..."

                Como o profeta em cinza a fronte envolve,
                Velo a cabeça no areal que volve
                O siroco feroz...

            Quando eu passo no Saara amortalhada...
            Ai! dizem: "Lá vai África embuçada
            No seu branco albornoz... "

            Nem vêem que o deserto é meu sudário,
            Que o silêncio campeia solitário
            Por sobre o peito meu.
            Lá no solo onde o cardo apenas medra
            Boceja a Esfinge colossal de pedra
            Fitando o morno céu.

            De Tebas nas colunas derrocadas
            As cegonhas espiam debruçadas
            O horizonte sem fim ...
            Onde branqueia a caravana errante,
            E o camelo monótono, arquejante
            Que desce de Efraim
.......................................

            Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
            É, pois, teu peito eterno, inexaurível
            De vingança e rancor?...
            E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
            Eu cometi jamais que assim me oprime
            Teu gládio vingador?!
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             Foi depois do dilúvio... um viadante,
             Negro, sombrio, pálido, arquejante,
             Descia do Arará...
             E eu disse ao peregrino fulminado:
             "Cam! ... serás meu esposo bem-amado...
             — Serei tua Eloá. . . "

             Desde este dia o vento da desgraça
             Por meus cabelos ululando passa
             O anátema cruel.
             As tribos erram do areal nas vagas,
             E o nômade faminto corta as plagas
             No rápido corcel.

             Vi a ciência desertar do Egito...
             Vi meu povo seguir — Judeu maldito —
             Trilho de perdição.
            Depois vi minha prole desgraçada
            Pelas garras d'Europa — arrebatada —
            Amestrado falcão! ...

            Cristo! embalde morreste sobre um monte
            Teu sangue não lavou de minha fronte
            A mancha original.
            Ainda hoje são, por fado adverso,
            Meus filhos — alimária do universo,
            Eu — pasto universal...

           Hoje em meu sangue a América se nutre
           Condor que transformara-se em abutre,
           Ave da escravidão,
           Ela juntou-se às mais... irmã traidora
           Qual de José os vis irmãos outrora
           Venderam seu irmão.

           Basta, Senhor! De teu potente braço
           Role através dos astros e do espaço
           Perdão p'ra os crimes meus!
           Há dois mil anos eu soluço um grito...
           escuta o brado meu lá no infinito,
           Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...”
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                            Procurei manter as expressões poéticas e os termos originais. Alguns deles até estão em desuso. Peço desculpas aos meus poucos e eventuais leitores, mas entendo que como nada mudou para a África e para os africanos, exceto o lucro cada vez maior dos exploradores,  o poema original devia ser mantido, como mantida está minha admiração por Castro Alves.
                                

28 maio 2015

CRUELDADE - O ATENTADO AO HEBDO

CRUELDADE

                                                                                            Sérgio Roxo da Fonseca

O mundo ficou abalado com o atentado cometido em Paris por islamitas contra os redatores do jornal humorístico HEBDO que, dias antes, apresentava em sua capa uma caricatura debochada de Maomé.
Percebe-se um conflito entre a posição dos jornalistas assassinados convertidos em símbolos da liberdade de imprensa de um lado, e de outro lado o suposto direito de resposta de pessoas atingidas em sua fé religiosa. É desnecessário dizer que os jornalistas pagaram o maior preço pela solução do caso, ou seja, a sua própria vida. Dias depois o HEBDO, sem fazer humorismo, pediu tolerância e reflexão.
O HEBDO observou que muito embora o caso tenha tido repercussão universal não é único na história crudelíssima dos homens. O HEBDO pergunta o que estaria acontecendo com os nossos jovens? Os assassinos eram jovens franceses descendentes de árabes ou de outras etnias africanas e asiáticas. Há bem pouco tempo a França explorava colônias em outros países.
A mais extensa batalha ocorrida após a Segunda Guerra ocorreu na cidade vietnamita de Dien Bien Phu quando, após cerca de 40.000 mortos, as tropas franceses saíram do Vietnam, antecipando a intervenção norte-americana. Logo depois a França teve que suportar a guerra de independência da Argélia, de 1954 a 1962, travada entre as forças regulares francesas e a população civil argelina. Todos os atos cometidos pelos “pés negros” contra os franceses eram considerados conduta terrorista. Em 1962, após sofrer atentados cometidos por franceses, o General De Gaulle reconheceu a soberania da Argélia, pondo fim à guerra. Essas intervenções em terras estrangeiras trouxeram grande número de imigrantes para a França, importando culturas diversas e conflitos duríssimos entre as novas gerações.
Muito embora sem as mesas características frequentemente alunos das excelentes escolas dos EUA matam seus professores e colegas, aparentemente, sem causa e sem motivação.
A OTAN, Tratado do Atlântico Norte, está intervindo belicamente na Ásia, que, como é sabido, não é banhada pelo Oceano Atlântico.
Os vários textos agora publicados pelo HEBDO insinuam que há necessidade de reflexão e tolerância. Não existem duas nações beligerantes passíveis de negociarem a paz. Onde estaria a raiz dos conflitos, indagam os jornalistas? Sem certeza matemática, insinuam que o problema é educacional. Há que se entender a questão numa amplitude ainda não conhecida por nossa reflexão e por nossa tolerância. O homem do século XXI vive num ambiente cruel. Por que? Por quem?




 

BIQUINE E SANDUICHE - Sérgio Roxo da Fonseca


Há quem afirme com alguma exatidão que a palavra é uma das coisas mais antigas das inúmeras criações do homem, razão pela qual é um dos elementos mais valiosos para estudar a nossa história. A palavra é a mãe da história, pouca coisa se sabe do que ocorreu antes de sua invenção. Alguns dos historiadores mais radicais sustentam que a investigação das palavras revela mais verdades do que a exploração das pirâmides dos Egito.

Sabemos o que significa a palavra “nunca”. Mas nem sempre “nunca” foi nunca, mas, sim, o seu contrário, ou seja, “nunca” já foi “agora”. No final da oração da Ave Maria é dito em latim: “nunc et in horis mortis nostrae”, o que é traduzido por “agora e na hora de nossa morte”. Na conhecida oração o vocábulo “nunc”, em latim, foi traduzido como “agora” para o português. A questão não é isolada, provavelmente, pois todas as palavras carregam consigo vários significados e, com certeza, muitos mistérios ocultos. Como “nunc” que era “agora” para nossos antepassados e hoje é quase o seu contrário.

Os ingleses descobriram algumas ilhas que cercavam outra menor, Foram batizadas com o nome de Ilhas Sandwich. Não sei quem imediatamente teve a ideia de transformar o nome das ilhas no nosso conhecido “sanduiche”. O jeitão das ilhas gerou o nome dos famosíssimos sanduiches que continuam sendo consumidos sem que as pessoas tenham qualquer preocupação com as navegações inglesas.

Nesses dias em que recordamos o final da Segunda Grande Guerra, os melhores canais da TV transmitiram as primeiras e trágicas experiências norte-americanas com a bomba atômica, o que ocorreu em 1946, alguns meses antes do seu lançamento sobre as cidades japoneses de Hiroshima, em 6 de agosto, e, de Nagasaki, em 9 de agosto daquele ano.
As duas primeiras bombas atômicas foram lançadas sobre um atol localizado no sul do Oceano Pacífico. O atol chama-se Bikini. Tinham alguma noção de seus efeitos, mas não de todas as suas consequências.

Conforme o filme documenta, os marinheiros e os cientistas não tinham o domínio dos fatos. As pessoas e os navios submetidos à irradiação foram examinados e mandados de volta para os Estados Unidos, despreocupadamente.

Muitos soldados, após a detonação da bomba, foram até o atol e levaram consigo um punhado da areia como lembrança do fato histórico. Alguns perderam seus braços e outros as suas pernas. Muitos morreram de câncer.

O nome do atol Bikini foi imortalizado porque gerou o vocábulo pelo qual até hoje identificamos a pequena roupa usada pelas mulheres quando vão à praia, seguramente sem irradiar as trágicas consequências das duas bombas lançadas no sul do Pacífico em 1946.



   

DE OLHOS PARA O FUTURO - José Anézio Palaveri


                        “Se choras por teres perdido o sol as lágrimas não te permitirão ver as estrelas”
                                                                                                                                  Tagore
            As lamentações não nos levarão a lugar nenhum... e tem muita gente com saudades do passado.
            Ah! Como era tranquila a aldeia indígena! Menos violência, menos crimes, menos corrupção...
            E nós perdendo as oportunidades que o progresso poderia nos dar para vivermos melhor. Queremos muito para nós e olhamos menos de lado para dar as mãos aos companheiros e vamos correndo de medo, sem tempo para curtir as paisagens, as belezas, as mordomias que as tecnologias poderiam nos proporcionar.
            A competição nos torna tristes e lamentosos. Na profissão, no comércio ou na política olhamos para o próprio umbigo e vamos nos esquecendo dos companheiros de viagem, dos que estamos no mesmo barco.
            Quando fazemos nossas críticas esquecemo-nos das dificuldades e agruras do passado. Num país abençoado vivemos torcendo para que as coisas piorem com nossas críticas que não levam em conta os passos que já foram dados, as dificuldades que já foram superadas.
            Precisamos estar de olhos vivos, mas não embaçados pelas posições políticas, pelos desejos de maldade para os adversários, para que as coisas não dêem certo e eles percam seu prestígio.
            Os que ganharão as próximas eleições nem sabem o que vão herdar se investirem no quanto pior melhor do momento. Há momentos de nos dar as mãos e há momentos de disputas.
            Há momentos de abrir os olhos e olhar ao lado, vendo os que mais sofrem, os que se desesperam, os que perdem as perspectivas de vida, dar-lhes as mãos, sermos mais solidários, no país e no mundo.
            Mostrar o coração que temos, não alimentando o desperdício e as carências. Até as sobras são negadas aos que precisam comer. Alimentos se perdem, são jogados fora em momento de fome mundial.
            Não precisamos atravessar oceanos para sentir a carência de muitos de nossos irmãos. Há entre nós alguns que não conseguem nem uma refeição por dia todos os dias. Alimentam-se nos dias úteis ou nos dias em que encontram alguém que lhes dê alimentos sem menosprezá-lo, sem criticar sua miséria, sua pobreza.
            Olhar para o futuro agradecendo a natureza abençoada, lembrando-nos de cuidar dela. Lamentamos e nos apavoramos com a carência de água e nos descuidamos de olhar com carinho  suas fontes, cuidar da natureza, dos rios, dos lagos e suas margens. Desmatamos para produzir alimentos que sobram nossos supermercados ou em nossas casas e são jogados fora mesmo sabendo que muita gente necessitaria deles para matar a fome.
            Seres inteligentes, tecnologias avançadas e estamos correndo riscos de vivermos pior que antigamente. O passado pode nos dar lições, mas não saudades. Vamos enxugar as lágrimas de nossos olhos para termos uma visão clara de nosso futuro.
                                                           Dr. José Anézio Palaveri, maio de 2015.
                                                           Médico, escritor da APLACE.

11 fevereiro 2015

PENA DE MORTE - Sérgio Roxo da Fonseca

PENA DE MORTE


Sérgio Roxo da Fonseca

O cristianismo alterou a aplicação de penas. Antes da Idade Média tudo era resolvido aplicando-se a pena de morte. Não havia cadeia. É bem verdade, que, inicialmente foram criados os juízos de Deus, acreditando-se que a atuação divina podia atuar suspendendo torturas quando se tratava de réu inocente. Eram as ordálias.
 Um exemplo clássico era exigir que o acusado mergulhasse a mão numa panela com azeite fervendo. Se fosse inocente, com certeza, Deus iria intervir evitando qualquer espécie de queimadura. Há relíquias desses juízos até hoje. Em vários países, se o carrasco, no primeiro momento, não consegue matar o réu, a pena de morte é suspensa. Foi Deus que absolveu, afirmam.
Durante a Idade Média, padres cristãos passaram a recolher-se em monastérios, permanecendo em suas celas, fazendo penitências para salvar a humanidade. Os livros ensinam que as celas dos monges e suas penitências deram origem às penitenciárias.
Mesmo assim a pena de morte perdura em vários países, mesmo em tempo de paz. Dois casos exemplificam sua aplicação. Os dois exemplares ocorreram nos Estados Unidos.
O primeiro refere-se à condenação e execução na cadeira elétrica de dois operários italianos, Sacco e Vanzetti, acusados de homicídio. Foram executados em 1927 mesmo após outra pessoa inocentá-los. Cinquenta anos após a aplicação da pena de morte, foi reconhecida a sua inocência pelo governo norte-americano do Estado de Massachussetts.
O segundo caso traz a exame o processo e a condenação de um casal judeu de Nova York acusado de transmitir segredos de Estado ao governoda União Soviética. Eram comunistas. Contra a execução, houve a manifestação de várias personalidades, entre as quais o Papa Pio XII, Einstein, Brecht e Fritz Lang. O presidente Eisenhower negou-se a comutar a pena que foi executada na Penitenciária de Sing Sing em 1953. Julius Rosenberg morreu ao sofrer a primeira descarga elétrica. Ethel, sua esposa, foi sometida a três descargas antes do óbito. As testemunhas do ato registraram que Ethel somente morreu após sair fumaça de sua cabeça.
O escritor norte-americano Truman Capote condenou em obra prima a perna de morte, afirmando que quando o Estado a aplica, mata cruelmente a sangue frio. O seu livro, que foi filmado, chama-se, não por acaso, “A Sangue Frio”.
As execuções noticiadas recentemente na Ásia espantam o homem civilizado. Não se pune o criminoso porque pecou. Nem mesmo para que não peque mais. Mas sim porque pecou e para que não peque mais. A pena de morte nega o avanço da civilização, equiparando as autoridades aos criminosos. Muitas vezes, ao contrário do Estado, há criminosos que não matam a sangue frio.

   

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

                    Assim caminha a humanidade
                                                           Falarei do bicho homem ou do amor de Deus?
            “Senhor, que é o homem para dele assim vos lembrardes e o tratares com tanto carinho? “
            A glória e o esplendor do homem. Vou meditando o salmo 8, apavorado com a realidade que vejo estampada nas telas das televisões...
            Um bebê de dias, abandonado numa sacolinha, ainda com o cordão umbilical, num túmulo de um cemitério. Graças a um pedreiro que trabalhava por lá,  que ouviu seus gemidos, foi salvo  e cuidado com carinho.
            No meu sítio, uma cachorra ficou sem dono dois dias depois de dar à luz seus três cachorrinhos. Abandonada, não abandonou seus cachorrinhos, permaneceu de plantão, protegendo-os, de plantão, sobrevivendo com os recursos da natureza e com a piedade de alguns seres humanos. Nem um dia vi os cachorrinhos desprotegidos. Alimentava-os. Procurava alimento para sobreviver. Parecia orgulhosa de sua maternidade e agasalhava seus filhos com carinho.
            Vejo reféns mortos, degolados, incendiados em celas, em várias partes do mundo. Mortes televisivas, querendo demonstrar o que poderão fazer se não forem respeitados em seu terrorismo, e ódio. Trocas de reféns, de prisioneiros, prometidas e pessoas humanas usando outras pessoas como escudos de seu terrorismo e ideologias.
            Iria escrever sobre a indignidade do bicho homem, sua agressividade e maldade, mas o salmista, cantando suas alegrias sobre o amor de Deus e a dignidade a que o ser humano foi elevado por Deus me animou e me fez mudar de ideia.
             E de novo vejo  o terrorismo, dando desculpas ou  inspirado em seus gurus, líderes e fundadores, transviados em suas mentes, sacrificando pessoas, dizendo que estão se defendendo, e agridem , e matam, e se esquecem de negociar, de sentar na mesa para discutir ideias, e se esquecem do valor de suas vidas e das dos outros. Tento pensar e entender o que pode estar passando pela cabeça de um homem bomba!...
            Uns curam outros cuidam, outros matam, outros falsificam medicamentos, vendem drogas mortíferas para alimentar seus lucros e poder. Prometem  curas com produtos falsificados, enganam e roubam colocando vidas em risco. E vidas de seres humanos iguais a eles.
            E saber que Deus nos trata com tanto carinho, com privilégios, de inteligência, imaginação, capacidade de amar e de nos emocionar.
            E me pergunto quando estou rezando: Quando vamos nos convencer de que nossa dignidade é infinita, de que todos temos valores incalculáveis, de que daria para ser diferente se fôssemos menos egoístas, mais solidários, e tivéssemos a coragem de ouvir a voz de Deus, darmos as mãos e vivermos como irmãos, filhos muito amados do mesmo pai?
            E vejo tantos gestos de humanidade no cotidiano da vida. Pessoa simples cuidando de outras pessoas, pobres solidários com pobres, hospitais habitados por seres de coração...
                                                           Dr. José Anézio Palaveri, fevereiro de 2015.
                                                           Médico, cronista da APLACE.

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