29 dezembro 2011

NOVOS TEMPOS, COM SONHOS E MUDANÇAS



JOSÉ ANÉZIO PALAVERI
Médico (Pirassununga)
Membro da APLACE.



“Um novo céu e uma nova terra..., não haverá mais crianças que vivam alguns dias apenas, nem velhos que não cheguem a completar seus dias...” Isaías 65,20. Feliz 2012. As previsões não são de céu de brigadeiro. Os catastrofistas anunciam nuvens e trovoadas, os que puseram sua fé somente no Papai Noel ainda têm tempo para caírem na realidade, fazerem seus planos, criarem coragem de tomarem atitudes que possam propiciar novos rumos, com novos compromissos e mostrarem que a realidade poderá ser diferente dependendo de seu empenho, de esperanças transformadas em atos e ações diferentes de um comportamento costumeiro de passividade e dependência.

Novos tempos são construídos, com empenho, dedicação, suor, mãos na massa, planejamento, metas, relacionamentos saudáveis, descruzando os braços. Mesmo assim a cruz poderá ser muito pesada se as cargas não forem partilhadas, se a solidariedade não se manifestar, se nenhum cirineu surgir durante a caminhada.

Um tempo diferente, escolhas diferentes, difíceis, certas, no lugar das fáceis, tentadoras, erradas, superficiais, sem compromissos.

Iluminar a dura rotina e a sequência do cotidiano com novas luzes, novos ares. Descobrir a presença da Eternidade que irrompeu em nossa história, e permanece no coração do tempo, de nossas vidas.

Descobrir o valor do momento que foge. Não viver na distração, a única vida concreta acontece no aqui, no agora, no momento presente, não viver na saudade e nem se afogar na preocupação.

Vida curta, as preocupações atrapalham, as ocupações, metem medo, desviam as rotas. Cada momento esconde sua pérola e é muito excitante quando a descobrimos ou fazemos investimentos para possuí-la.

Quantos minutos disponíveis! Já pensou nas revoluções que podem, acontecer num minuto? Uma resolução, um sim consciente, uma decisão refletida, um rompimento de relações, o desperdício de coisas construídas durante anos, uma ofensa, uma separação. Os momentos decisivos e descuidados podem ter sido e significado as melhores oportunidades desperdiçadas.

Desejar, traçar metas, realizar as ações necessárias para que as coisas aconteçam, mesmo com desgaste, sem desperdícios de energias.

Ser protagonista e ser coadjuvante, que o espetáculo da vida não acontece sem todos os seus personagens, não dá para sempre dar a última palavra, ser o astro principal.

Recebemos apoio em nossos planos e apoiamos quem caminha conosco. O mundo é muito pesado para ser carregado sozinho.

Olhar para o lado e ver o parceiro, olhar para trás e reconhecer o necessitado de solidariedade, não desconfiar dele, olhar para frente e reconhecer exemplos a imitar, caminhos a trilhar.

Cada coisa no seu tempo e há um tempo certo para cada coisa. “ tempo para nascer, para plantar, para curar, para construir, para chorar , para bailar, para recolher as pedras, para rasgar, para calar, para falar, para construir a paz...” Sem pressa, vamos sonhando e construindo os novos tempos.











palaveri@terra.com.br



















26 dezembro 2011

AS OPORTUNIDADES PARA 2012

O ANO NOVO

                                                                                            Isac Jorge Filho

            Já se foi mais um ano. Temos um a menos para viver nossas realizações.


            É tempo de análises e agradecimentos.


            É tempo de balanço.


            Certamente a simples mudança de um ano para outro não tem nenhum poder   especial,       não  há mágica nisso.


           A "mágica" está em que cada um de nós possa entender a passagem como renovação ou como busca de novas oportunidades.


           Para 2012 peço que Deus dê a todos nós a oportunidade :


                    • DE FAZER O QUE JÁ DEVIA TER FEITO;

                    • DE SENTIR O QUE JÁ DEVIA TER SENTIDO;

                    • DE PERDOAR O QUE JÁ DEVIA TER SIDO PERDOADO;

                    • DE PEDIR O PERDÃO QUE JÁ DEVIA TER SIDO PEDIDO;

                    • DE DOAR O QUE JÁ DEVIA TER SIDO DOADO;

                    • DE SE INDIGNAR CONTRA AS INDIGNIDADES;

                    • DE TER A CORAGEM DE DIZER NÃO, MAS TAMBÉM TER A CORAGEM DE DIZER SIM;

                   • DE TER A CAPACIDADE DE AMAR PROFUNDAMENTE, SEM VERGONHA DE DIZER;

                   • DE SER AMIGO DE NOSSOS AMIGOS;

                   • DE TER A VERDADEIRA SOLIDARIEDADE HUMANA;

                   • DE NÃO NOS CURVAR ANTE OS PODEROSOS, MAS TAMBÉM DE LUTAR PARA QUE NINGUÉM TENHA QUE SE CURVAR DIANTE DE NÓS.

                  • DE SABER GRITAR, NA HORA CERTA, UM SONORO NÃO PARA A MENTIRA, PARA A TRAIÇÃO E PARA A DEMAGOGIA.



                               É a luta para agarrar essas oportunidades e cumprir seus objetivos que dá sentido ao Ano Novo, que é a renovação de nossas esperanças.








28 setembro 2011

OS ABSURDOS COMBOIOS DAS ESTRADAS

ISAC JORGE FILHO


Quando vi o primeiro, imaginei que ali estivesse uma coisa improvisada e temporária, para resolver alguma emergência. E era “apenas” uma carroceria dupla. Ainda assim, ocupava grande espaço, dificultando o trânsito e oferecendo perigo aos demais veículos. Depois vieram os conjuntos de três “vagões”. Ficaram tão comuns que receberam nome próprio: “treminhões”. No ritmo em que a coisa anda, logo teremos verdadeiros comboios nas estradas. Que se danem os demais usuários de nossas vias rodoviárias de comunicações! Tudo pela economia! Tudo pelo lucro!

O número de acidentes nas estradas é enorme. Vidas sacrificadas, incapacitações definitivas ou temporárias, constituem o saldo negro desses acidentes. Todas as medidas que possibilitem maior segurança são válidas e indispensáveis. Está aí um “novo” código de trânsito, lançado com pompa e intensa divulgação. No entanto, temos transitado por estradas da região e continuamos convivendo perigosamente com “treminhões”. O número de acidentes teoricamente deverá ser mais alto que o que ocorre com caminhões de carroceria simples. Basta pensar na dificuldade para as ultrapassagens. Recentemente um jovem médico perdeu a vida em acidente envolvendo um desses veículos. Há menos de um mês a mídia divulgou outro acidente fatal.

Que benefícios trazem os “treminhões”? As estradas não foram feitas para suportarem tais tipos de veículos. O número de empregos cai, na medida em que três caminhões são substituídos por um único. O perigo aumenta para todos os usuários de estradas onde existem tais veículos. Assim, os únicos benefícios são de ordem econômica, e assim mesmo para poucas pessoas. Será que isto é justo? Será que vale a pena?

Há um aspecto de ironia política e econômica nessas constatações. A partir da segunda metade do século passado o transporte ferroviário foi praticamente dizimado para dar lugar ao rodoviário. Tudo passou a girar em torno da indústria automobilística e do petróleo, incluindo o transporte de carga. E vinha em total contra-mão da história. Todos os países desenvolvidos, principalmente os territorialmente grandes, usaram e usam amplamente a via férrea. Aqui, sabe-se lá por que tipo de acordo, o transporte ferroviário foi sucateado. Perde a economia do país e a segurança nos transportes. Na verdade não se trata de uma disputa por espaço entre via ferroviária e via rodoviária. Podem conviver muito bem. Recentemente pude constatar em um passeio de barco pelo rio Meno, na Alemanha, que, enquanto desciam barcaças carregadas de mercadorias pelo rio, em uma das margens uma ferrovia permitia passagem de grandes comboios e na outra margem, por uma rodovia, passavam carros e caminhões. Era a mostra clara da possibilidade de co-existência entre os três tipos de transporte. O interessante é que o menor movimento era o rodoviário.

Voltemos aos treminhões: parece que querem substituir os comboios ferroviários por comboios rodoviários. O custo desse absurdo será pago com vidas e com muito prejuízo financeiro. Não se corrige um erro com outro.

A propósito, vale lembrar os últimos processos eleitorais: salvo algumas poucas manifestações pontuais e superficiais não tomei conhecimento de nenhum projeto consistente e profundo de retomada do transporte ferroviário no País ou nos Estados. Até o “trem-bala”, tão noticiado, e que não representa a retomada da via ferroviária no País, já deixou de freqüentar a mídia.

O que se reserva para o futuro na área do transporte? Nossas ruas e estradas já não suportam mais a sobrecarga de veículos. Tememos que o próximo passo nessa "evolução" seja dado com comboios ainda maiores: os “tetraminhões”? Ou, quem sabe, “pentaminhões”?

24 agosto 2011

O MÉDICO COMO CORRETOR

ISAC JORGE FILHO

Está cada vez mais difícil ser médico neste País. Não bastassem as péssimas condições de trabalho a que muitos são submetidos, a remuneração aviltante, imposta à maioria dos colegas, a falsa e perigosa noção de “profissão liberal” que querem nos impingir, que de liberal tem apenas a falta das vantagens sociais do emprego, o que propicia a exploração por parte dos intermediários da prestação de serviços médicos, de uns tempos para cá surge uma nova forma de explorar o trabalho do médico, agora como corretor ou propagandista de diferentes tipos de empresas. O pior é que isto é feito de maneira dissimulada, querendo fazer crer ao colega de que ele está participando de um belo serviço social em benefício dos mais carentes. E o colega embarca na conversa, não percebendo que está sendo usado. É assim com os chamados “cartões de desconto” em que o médico acaba trabalhando por valores mais baixos sob o argumento de que isso lhe trará mais pacientes e o argumento hipocritamente “social” de que está beneficiando pacientes que, de outra forma, não teriam acesso às consultas. Laboratórios de medicamentos usam médicos como corretores de seus produtos ao deixarem nos consultórios impressos com orientações dietéticas ou de outros tipos, acompanhadas do nome do produto correlato ou de propaganda da empresa. Pior ainda é quando deixam selos ou bônus de descontos que, se forem apresentados em determinadas farmácias, permitirão desconto no preço do medicamento. O colega, mais uma vez embarca na jogada, não percebendo que está sendo usado como corretor do laboratório e da farmácia, não pensando que, se é possível dar o desconto, porque não dar a todos, mas apenas aos que levarem o bônus. Não percebe que está sendo usado para um procedimento que nada mais é do que o da concorrência comercial.
Ao perceber a ingenuidade do médico em se prestar ao trabalho de corretor empresas de outras áreas resolveram também fazer uso do mesmo expediente. Acabo de receber consulta de colega com relação a um documento enviado para médicos propondo que intermediem a indicação da empresa para pacientes que queiram fazer financiamentos para tratamentos ou operações. Como vantagem informam que o paciente poderá parcelar seus pagamentos à empresa e o médico receberá à vista, sem nenhum desconto. Tanta “bondade” emociona. Mas, porque colocar o médico como intermediário? Se a "benemérita" empresa, que pensa altruisticamente nos pacientes que não podem arcar com as despesas médicas, quer fazer sua benemerência que trate diretamente com os pacientes por meio da propaganda de seus financiamentos e não utilizando o médico "credenciado" como propagandista, e, portanto, interagindo com a empresa comercial.

Veja, nesta frase, extraída da mesma proposta citada acima, como se "compra" um médico: "Outros benefícios poderão ser negociados, dependendo do volume de pacientes/clientes INDICADOS PARA CONTRATAÇÃO DE FINANCIAMENTOS " Ou seja, viramos corretores de empresas de financiamento.

O pior de tudo é que esta proposta girou pela Internet a partir da reação indignada de um colega que recebeu várias manifestações de apoio, mas algumas achando que não há nada demais, já que vai facilitar a vida de alguns pacientes e beneficiar o médico, se esquecendo do artigo 9º no Código de ética Médica: " A Medicina não pode, em qualquer circunstância ou de qualquer forma, ser exercida como comércio".
Nesse ritmo, se não nos indignarmos e reagirmos, logo teremos uma disputa comercial entre os “times” de médicos ligados a diferentes empresas, ou contratados por elas, lutando pela conquista do “mercado”, já que “mercado” é aquilo em que muitos querem transformar a milenar e linda ciência/arte que é a Medicina.




29 abril 2011

O "TROTE" VIOLENTO: TRISTE HERANÇA DE SADISMO "MEDIEVAL"

O “ TROTE” VIOLENTO: TRISTE HERANÇA DE SADISMO "MEDIEVAL"
Isac Jorge Filho


É um espetáculo deprimente que se repete a cada vez que são divulgados os resultados dos vestibulares pra Medicina. Futuros médicos assumem papéis lamentáveis e recebem seus novos colegas com calorosas manifestações...de selvageria.


O que devia ser momento de alegria pela recepção dos novos colegas se transforma em manifestação bestial de desamor ao próximo. As notícias resultantes dessa “recepção” frequentemente são trágicas: é o calouro que morreu afogado, é o outro que ficou cego, é o que sofreu trauma craniano, é o que teve queimaduras pelo corpo... é um circo de horrores perpetrados pelos que deviam ser a elite cultural do país. E estamos falando de jovens que tiveram o privilégio de ser universitários em meio a analfabetos e semi-alfabetizados. Que fazem parte daqueles que receberam mais, em um país onde a regra é receber menos.


A origem do termo tem interessante simbolismo. Classicamente o trote se refere a certa forma de movimentação de cavalos, situada entre o passo e o galope. É processo que deve ser ensinado, muitas vezes por meio de chicote e espora. Lamentavelmente é dessa maneira que o calouro é encarado, em muitas universidades, pelo veterano. A título de “confraternização”, ele deve ser “domesticado” por meio de práticas humilhantes e vexatórias, geralmente estimulado por grandes quantidades de bebidas alcoólicas que é obrigado a ingerir, para que simbolicamente “aprenda a trotar”.


Não é assim que deve começar a formação de um médico. Temos proposto uma campanha nacional pela recepção civilizada e social ao novo universitário, que já diferencie aqueles que alguns anos depois vão jurar exercer Medicina ética, com zelo e respeito pelos pacientes e pelos colegas. Pouca gente se preocupa com esta proposta. Continuam vendo, passivamente, futuros médicos embriagados participando, forçados ou não, da celebração das diferenças sociais, já que uma das atividades “clássicas” do trote é pedir moedas em esquinas, ocupando o lugar dos infelizes que, lamentavelmente, vivem dessas esmolas. E calouros e veteranos gargalham alcoolizados ante essa extrema falta de sensibilidade diante da pobreza. Algum tempo depois vão repetir o Juramento de Hipócrates, automaticamente. Sempre esperamos que os seis anos de curso e o contato com pobres e doentes tenha tirado deles o sadismo demonstrado nas manifestações do trote.


Questionadas, algumas diretorias de faculdades tem respondido argumentando que o trote está proibido dentro de seus “campi”. É pouco. É o mesmo que admitir que, depois de formado, o médico possa cometer barbaridades, desde que não seja no hospital, ambulatório ou consultório.


Felizmente é cada vez maior o número de calouros e veteranos que se coloca contra essa barbárie, vinda de costumes medievais. Também cresce o número de familares que deixa de entender essas manifestações como "coisas normais da juventude". Não é não: a juventude é generosa e sensível e esse costume bárbaro não faz parte do espírito de jovens que pretendem ser médicos em um país com tantos doentes.


É fundamental que a categoria médica reconquiste o respeito da população. É bom “começar do começo”. Não se pode esquecer que o calouro é o futuro médico e o trote selvagem não é maneira correta de iniciar o preparo para uma profissão que lida com vida, saúde e ética.

20 abril 2011

INDÚSTRIA BÉLICA: O MAIOR E MAIS SUJO NEGÓCIO DO MUNDO

INDÚSTRIA BÉLICA: O MAIOR E MAIS SUJO NEGÓCIO DO MUNDO
Isac Jorge Filho

Fui estudante universitário, na USP-Ribeirão, em tempos de profunda politização do movimento estudantil. Como conseqüência vários colegas foram presos ou precisaram deixar Ribeirão ou, até mesmo, o País. Falávamos de um Brasil mais justo e humano, que não tivesse atrelado aos interesses dos poderosos, fossem brasileiros ou estrangeiros. Elegíamos como algoz maior uma coisa chamada “complexo industrial militar”, que ditava os rumos do mundo em função de seus interesses comerciais, disfarçados como “luta pela democracia” ou “luta anti-comunista” geralmente ficando atrás das cortinas e agindo por meio de terceiros que realmente acreditavam nessa corrente ou que eram testas de ferro contratados. Entendíamos que as sedes desse complexo estavam espalhada pelo mundo, com a unidade central nos Estados Unidos. O golpe militar de 1964 varreu essa juventude universitária politicamente esclarecida. Todos conhecem muito bem a história daquela época.
Leio agora, quase meio século depois, que o gasto militar tem crescido, chegando, em 2008, ao quase inacreditável total de US$ 1,46 trilhão, que correspondem a R$ 2,85 trilhões. O dado é do Instituto Internacional de Estudos para a Paz (Sipri) sediado em Estocolmo, Suécia. Quero me aprofundar na análise desses dados.
O convívio, no mundo “globalizado” tem nos tornado insensíveis ao que representam os grandes números. Um telespectador se horroriza, com razão, diante de um crime cometido na rua, mas não presta muita atenção à notícia de um bombardeio que matou 80 pessoas, inclusive crianças, na Líbia, Iraque, Afeganistão, Kosovo e tantos outros países...afinal é tão longe! Essa “anestesia” de sensibilidade é produto da chamada globalização, como também o é não se indignar ao saber que o gasto com armamentos é mais que 190 vezes maior que o que se gasta para combater a fome, promover o desenvolvimento agrícola e melhorar, e forma paliativa, a situação nutricional das populações de países pobres que lutam contra a dificuldade de obter alimentos seja pela baixa produção, seja pelo alto preço. São dados da FAO, divulgados a partir da Conferencia de Alto Nível sobre Segurança Alimentar realizada em Roma. É indispensável que cada um pare e pense um pouco: o mundo gasta para matar mais que 190 vezes o que gasta para aliviar a fome da população mais pobre do planeta.
Volto a lembrar do “complexo industrial militar”. Estávamos certos, é ele mesmo o grande vilão. E continua agindo por meio de terceiros, nos últimos tempos incluindo a OTAN e a própria ONU. Derrubam governos, elegem ou impõem governos, que, muitas vezes, acabam sendo nada mais que executivos de luxo de um interesse maior, que é absolutamente comercial. Afinal, eles tem o melhor negócio do mundo: fabricam e vendem armas que, em última análise, são pagos com o dinheiro do povo para o qual essas armas levaram morte e destruição. Ou alguém ainda acredita em “ajuda” militar?
O Iraque sairá, um dia, do domínio a que está submetido a partir de uma guerra baseada em mentiras, hoje admitidas até pelos seus executores. Mas talvez não saia nunca mais do lodaçal econômico em que se envolveu, já que terá que pagar dólar por dólar, euro por euro, libra por libra, cada bomba que foi jogada sobre sua população. Ou será que ainda pensam que esses gastos ficarão por conta dos Estados Unidos ou da Inglaterra? Ou ainda, ingenuamente, que a indústria bélica vai pagar a conta?
Agora é a vez da Líbia. De repente descobriram que Kadhafi (ou Gadhafi ou seja lá o que for) é um ditador sanguinário. Parece que ele sempre foi, mas não haviam desconfiado disso enquanto forneciam armas para seu exército (fornecer, aqui, significa vender mesmo). A OTAN passa a despejar bombas na Líbia. Alguém vai pagar por elas. Não será a indústria bélica. Os rebeldes estão pedindo armas. Certamente pagarão por elas e se vencerem comprarão mais (e isto aparecerá como “ajuda”). Se Kadhafi vencer comprará mais armas. Se ficar muito feio comprar oficialmente ele o fará “no paralelo”, mas o dinheiro irá para o mesmo lugar.
A filosofia do complexo industrial militar é claramente traduzida na idéia “fantástica” da “bomba limpa”. E o que vem a ser isso? Nada mais, nada menos que uma bomba que mata pessoas, mas não destrói casas, propriedades e objetos. Pronto, está aí a definição de objetivos dos que comandam o mundo: as propriedades e os bens materiais valem muito mais que as pessoas, que a vida.
Lamentavelmente o poder no mundo decorre do dinheiro. O dinheiro vem principalmente dos negócios e não há melhor negócio no mundo do que produzir e vender armas. Pena que o preço maior não é pago em dinheiro, mas em vidas e desgraças. Até quando?
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27 março 2011

A DITADURA DA MODA E SEUS EFEITOS CRUÉIS

ISAC JORGE FILHO A mídia divulgou a morte de uma jovem modelo como conseqüência de inanição. É apenas a ponta de um “iceberg”. A busca por mais informações a respeito do assunto, em todo o mundo ocidental, nos levou ao conhecimento de um grande número de complicações e muitas mortes decorrentes da desnutrição de jovens vítimas da “ditadura da moda”. Uma série de fotos de modelos mais parecia com as fotos que já vimos de pessoas em situações de desnutrição em massa, por falta de alimentos, sendo a ocorrida em Biafra a mais conhecida delas.

O tema intrigou a Câmara Técnica de Nutrologia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, formada por médicos que trabalham com distúrbios da nutrição e que levantaram alguns aspectos preocupantes:1- As divulgações, pela mídia, de mortes de jovens brasileiras, vítimas de inanição em nome de uma lamentável “indústria da moda e da beleza”.2- O estímulo, ainda que velado e indireto, de alguns agentes publicitários, algumas empresas que divulgam a moda e “fabricam” as “modelos” ou, ainda, certas instituições de ensino de danças artísticas que cultuam baixo peso como condição.3- Crianças ou jovens adolescentes em plena fase de crescimento e desenvolvimento, necessitando adequadas ofertas de nutrientes, se submetem ou são submetidas a violentas restrições dietéticas.Por desinformação, muitas famílias estimulam ou apoiam tais restrições alimentares.

A ditadura da moda tem concorrido fortemente para a má orientação alimentar, sendo as crianças com estrutura corporal “fora da moda magra” ridicularizadas em escolas, clubes sociais e, por vezes até dentro da constelação familiar.

A Organização Mundial de Saúde considera como parâmetro de qualidade de saúde as pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 18,5 Kg/m2 , entendendo como abaixo disso, e portanto sujeito aos riscos da desnutrição, valores mais baixos.

O processo de desnutrição é altamente lesivo para o organismo, dificultando a formação óssea, o desenvolvimento hormonal e intelectual e propiciando o aparecimento de várias doenças, principalmente as infecciosas, devido a baixa atividade imunológica.Algumas modelos tem IMC entre 14 e 16 Kg/m2 , tendo recentemente falecido modelo com Índice de 13!

Por tudo isso, a Espanha já assumiu a dianteira quanto a providências produzindo legislação que proíbe que jovens com índices de massa mais baixos que os preconizados sejam aceitas em empresas de modas e de danças artísticas. Busca, assim, cortar o caminho que leva a doenças e mortes por inanição crianças e adolescentes que buscam fama e sucesso. A Câmara Técnica de Nutrologia do Cremesp, que tenho a honra de coordenar, apelou para as autoridades responsáveis pela Saúde Pública brasileira no sentido de que defina e aplique normas rigorosas que busquem coibir, nos diferentes setores envolvidos, a perversa “ditadura da moda e da beleza” que tem levado à doenças carenciais e até a morte crianças e adolescentes em nosso País. Adicionalmente colocou-se à disposição para colaborar no estabelecimento destas normas e providências a serem aplicadas.