06 julho 2013

“MEIO” MÉDICO É PIOR QUE NENHUM



“MEIO” MÉDICO É PIOR QUE NENHUM

                                                                                              ISAC JORGE FILHO*
“Melhor meio médico do que nenhum”. Esta frase tem sido repetida por aqueles que defendem a absurda tese de trazer médicos estrangeiros para o Brasil sem avaliar seus conhecimentos e capacidades. Tornou-se ainda mais usada quando escrita pelo jornalista Hélio Schwartsman em artigo escrito na “Folha de São Paulo”. O desprezo para com a qualidade foi tão forte que levou a Presidente do Centro Médico de Ribeirão Preto, Dra. Cleusa Cascaes Dias, a cancelar sua assinatura, de muitos anos, daquele jornal. É realmente revoltante, para quem vivencia a medicina e suas mazelas no Brasil, ouvir e ler afirmativas tão equivocadas da parte de formadores de opinião. “Meio” médico não tem valor algum. Ao contrário, tem valor negativo, pois é um agente perigoso, capaz de matar ou seqüelar pessoas por desconhecimento de princípios básicos e incapacidade de procedimentos fundamentais. Este assunto demanda vários aspectos a serem discutidos. Vamos, hoje, nos fixar em dois.
 O primeiro diz respeito à idéia, que tentam impingir à nação,  de que nossos problemas de saúde são decorrência do baixo número de médicos, e, portanto, serão resolvidos com o simples aumento de profissionais.  Querem que se acredite que ao aumentar o número total de médicos resolverão  o problema maior, que é o de sua distribuição. Não estão muito interessados em saber porque faltam médicos em centros pequenos e periféricos e sobram nos centros maiores. 
Querem que se acredite que, em pleno século XXI, a medicina continua exercida pelos heróicos médicos antepassados, que faziam o lhes era possível,  sem auxiliares e sem equipamentos. Querem realmente para as populações periféricas a medicina com um século de atraso. Mas, pior ainda, exercida por pessoas de qualificação tão duvidosa que eles não querem que sejam submetidas a exames de qualificação.
Não querem enxergar que a eficiência em um sistema de saúde pública não depende apenas de médicos, mas de uma estrutura multiprofissional (e não se ouviu falar nada sobre trazer do estrangeiro enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e tantos outros) e de uma organização do serviço de saúde pública, que inclua a existência de equipamentos básicos indispensáveis e um sistema de carreira que estimule os profissionais a escalarem degraus, como o que já existe em outras profissões.
 De que adianta colocar um médico em uma pequena cidade e não dar a ele mínimas condições de trabalho, nem mesmo fios para suturas ou aparelhos modestos de RX? E ainda assim estamos pensando em um médico formado em Faculdade de Medicina autorizada e fiscalizada pelos ministérios “competentes”? O “competente” aqui vai entre aspas. E deve ser assim,  pois, o que pode se dizer de ministérios que abrem mão da sua prerrogativa de fiscalização e do controle de qualidade, propondo a contratação de médicos estrangeiros, sem passar por exames de qualificação? Na verdade isto mostra que não lhes interessa ter médicos inteiros, “meio” médico basta. Parece que é isso que querem para a saúde dos brasileiros: números e não qualidade.
............................................................................................................................................

22 junho 2013

MÁQUINA DE FAZER DOIDOS

MÁQUINA DE FAZER DOIDOS”
                                                                           Isac Jorge Filho
Era assim que o saudoso Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) apelidava a televisão. O Sérgio se foi, a televisão ficou...e está cada vez pior. Vale tudo em troca de um ponto de audiência. E tome bacanais organizados em nível nacional, como o BBB, onde se discute se uma relação sexual, apresentada para todo o País (e como dizem, orgulhosamente, para outros países do mundo), foi consentida ou não. E tome programa com manifestações de violência que querem nos impingir como “esporte”, com lutas do antigo “vale tudo”, que agora recebem nomes sofisticados, sempre vindos dos nossos exemplares e pacíficos irmãos do hemisfério norte. Na entrevista de um dos lutadores (que famoso comentarista de uma das emissoras chama de ‘gladiadores modernos’) perguntaram se ele sentia prazer em “bater na cara” do adversário. Resposta: “É meu trabalho. Ou eu bato ou ele me bate”. É esse o recado mandado para toda a grande colcha de retalhos que é o Brasil.
O que se esperaria é que, contrapondo essa agressão televisiva de moral e ética no mínimo discutível, os segmentos culturalmente mais avançados, que pelo menos devem saber, ler, escrever e analisar valores, procurassem dar exemplos. Infelizmente não é isso o que vemos.  Vejamos o que acontece quando milhares de jovens chegam à Universidade. É um espetáculo deprimente que se repete a cada vez que são divulgados os resultados dos vestibulares. Futuros profissionais de nível universitário assumem papéis lamentáveis e recebem seus novos colegas com calorosas manifestações...de selvageria. O que devia ser momento de alegria pela recepção dos novos colegas se transforma em manifestação bestial de desamor ao próximo. As notícias resultantes dessa “recepção” frequentemente são trágicas: é o calouro que morreu afogado, é o outro que ficou cego, é o que sofreu trauma craniano, é o que teve queimaduras pelo corpo... é um circo de horrores perpetrados pelos que deviam ser a elite cultural do país. E estamos falando de jovens que tiveram o privilégio de serem universitários em meio a analfabetos e semi-alfabetizados. Que fazem parte daqueles que receberam mais, em um país onde a regra é receber menos.
Futuros médicos, agora ainda calouros, tomam goles e goles de bebidas alcoólicas enquanto ocupam os pontos onde mendigos pedem moedas, nos cruzamentos das ruas. Chama atenção o número de representantes do sexo feminino tomando vodca, que é a bebida destilada preferida “porque não deixa cheiro e não dá celulite”(???)). Leio na mídia local e nacional que calouros da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo divulgaram nota de repúdio aos trotes que veteranos lhes aplicam e que incluiriam o total absurdo de que as calouras seriam obrigadas a  exibir-se nuas e prometer sexo aos veteranos. Vejam que estamos falando de futuros advogados da mais importante Universidade do País. Esta é a elite. O que se pode esperar de outros, que só tem como orientadores programas televisivos de demonstrações de sexo e violência? Ou será que são esses mesmos telespectadores que chegaram à Universidade e estão levando para ela o brilhante aprendizado de anos diante dos “professores” que dão aulas e exemplos na “máquina de fazer doido”. Afinal, as novelas estão aí, com claros modelos do que consideram “valores” modernos: corrupção, infidelidade, violência e tantos outros.
É coisa séria para nossa Universidade pensar. Será que a atual maneira de selecionar universitários, especialmente aqueles pagos com dinheiro público, está correta? Se estiver, será mais coerente que a escolha se faça em programas de auditório.