A PROLETARIZAÇÃO DA MEDICINA
Sérgio Roxo
da Fonseca
A proletarização profissional contrasta com a ideia da liberalização. O
vocábulo tem raiz na antiguidade da nossa civilização que, então, correspondia
às pessoas que tinham acesso ao direito de ter filhos, ou prole, como queiram,
não podendo, reversamente, ter acesso à propriedade de bens.
Com a primeira Revolução Industrial passou a ter um
significado mais preciso, mas não longe do originário. Proletário passou a ser
o contrário de empregador.
No sentido oposto estava e ainda está a ideia segundo a
qual o exercício de algumas profissões, peculiares que são, não podem ou não
devem sofrer as injunções próprias do contrato de trabalho, tais como a
medicina, a advocacia e a engenharia. Passaram a ser reconhecidas pela
expressão “profissionais liberais”, cujos atos devem ser apreciados segundo a
ética própria do seu titular.
A medicina, no entanto, tem sofrido profunda alteração no
seu exercício. Afirma-se que a transformação é resultado das necessidades de
grandes investimentos na técnica do seu exercício, o que impediria a prática
solitária ou individual.
Realmente, a partir da segunda metade do século XX os
médicos aos poucos vão se afastando do exercício liberal, sendo absorvidos por
empregadores públicos e privados.
É bem verdade que teoricamente afirma-se que, mesmo
assim, o sistema reserva para cada um deles o juízo ético do exercício dos seus
atos profissionais. Porém fica muito difícil afirmar que esta liberdade possa
se opor aos interesses corporativos de seus empregadores públicos ou privados.
Se a constatação é verdadeira, forçoso admitir que o
juízo ético da profissão da medicina está em forçada alteração, caminhando-se
para o que hoje conhecemos pelo nome de proletarização. Indaga-se se esta
preocupação é verdadeira ou falsa? Se verdadeira ou falsa qual é o sentido do
exercício dos atos médicos nos nossos dias? E no futuro?
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