A BÍBLIA DE PORTUGUÊS
Sérgio
Roxo da Fonseca
Li
na imprensa que estava sendo lançada uma bíblia de português. A frase, como se
vê, tem mais de um sentido. Vejamos alguns deles: 1) a bíblia é de um
português; 2) está é a bíblia escrita por um português; 3) está é a bíblia que
está sendo vendida por um português. Mas, com certeza, há outros sentidos.
Na
antiguidade os sábios discutiram o teor da frase pronunciada pelo anjo que
recebeu as santas senhoras em sua visita ao túmulo de Cristo. O texto examinado
continha duas negativas. Teria dito o anjo: “não, Ele não está aqui”. Se a
frase estivesse escrita em latim, uma língua lógica, as duas negativas seriam
eliminadas, de sorte que a afirmação teria o sentido de “Ele está aqui”. Um
“não” mata o outro.
Em
português não é assim. As duas negativas reforçaria a negação: “não, Ele não
está aqui”. Ou seja, com certeza ele ressuscitou.
Os
nossos os computadores, que são máquinas tautológicas, são mais latinos do que
portugueses. Para eles, duas negativas representam uma afirmação. Menos com
menos dá mais.
São
infindáveis as dificuldades encontradas em todas as línguas, muito
especialmente em português. Há tempos uma pessoa escreveu uma monumental bíblia
para servir de aldabra para abrir as portas do entendimento da nossa língua. Ou
seja, da nossa compreensão.
Refiro-me
ao livro “Gramática da Língua Portuguesa Padrão”, resultado de uma
extraordinária pesquisa desenvolvida pela festejada professora Amini Bounain
Hauy.
Todos
nós vivemos retratando o que vemos por meio de palavras. Quase sempre montamos
nossos pensamentos manejando essas mesmas palavras. A extensão do meu mundo é
do tamanho da extensão das minhas palavras.
Nossos
cumprimentos dirigidos ‘a pessoa da professora Amini Bounain Hauy, que,
cumprindo um dever bíblico, deu água aos sedentos e vestiu os nus, iluminando
os caminhos da nossa vida com as luzes sagradas da língua portuguesa. Com
certeza, escreveu um bíblia para o português.
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