19 março 2014

DIFERENCIANDO O QUE É AVANÇO

DIFERENCIANDO O QUE É AVANÇO

                                                                                  ISAC JORGE FILHO

É inegável o avanço tecnológico da Medicina. Não se pode falar o mesmo dos aspectos éticos e de relacionamento. O exercício profissional da medicina em consultórios e ambulatórios tem se tornado gradativamente mais complicado, a começar pelo atendimento em unidades de saúde e pronto-atendimentos. O sistema de plantões leva a uma quebra da relação médico-paciente. O retorno do paciente para trazer exames ou a continuidade do tratamento dificilmente encontrará o mesmo médico, obrigando, a um reinício de relacionamento. Mas, nos consultórios privados os costumes também estão mudando e, do meu ponto de vista, para pior. Vários pontos merecem consideração. Vamos,  hoje, nos ater às dificuldades de se lidar corretamente com a Internet, não sendo raros os desencontros porque o paciente, escudado em leituras de trechos de internet, cuja origem e interesses sequer conhece, envolve-se de “autoridade” em conhecimento especializado e passa a contestar condutas e informações de seu médico. Está quebrada uma relação fundamental e a insistência em sua continuidade será fadada ao insucesso. Sei de situações nas quais o profissional explicou que não iria mais atender o paciente que tinha claramente escolhido o “Dr.Google” como seu “médico de confiança”. Cabem aqui duas considerações. A primeira é a falsa ideia de que o médico é obrigado a atender a todos, sob pena de ser denunciado por “omissão de socorro”. Na verdade, diante de situações graves, não só o médico é obrigado a atender como até os não médicos, por exemplo,  em casos de atropelamento. É claro que o médico tem todo o interesse em atender todos, até porque é sua profissão. No entanto, o Código de Ética Médica é bem claro quando em seu Capítulo I, inciso VII determina que “O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente.” A segunda consideração diz respeito ao papel da Internet que, sem dúvida, é um importante e revolucionário meio de informação e atualização, mas que não substitui, de forma alguma, a presença do médico e a relação médico-paciente. É bom que o paciente saiba que não existe um controle de qualidade ou um Conselho Editorial na Internet, ou seja, a pessoa escreve o que quer. Muitas vezes é verdade e importante, muitas outras é besteira pura ou está ligada a interesses comerciais. Entre no “Google” e procure, por exemplo, “tratamento com urina humana”. Você vai regredir alguns séculos a um tempo que isto era tido como verdade absoluta. Nesta linha, você pode encontrar o que quiser na Internet, muitas coisas sérias no meio de muita bobagem. O problema é que não há um sistema para diferenciar um do outro. Talvez o único seja conversar com seu médico de confiança, mas, não estabelecendo polêmica no papel de “médico graduado pela Internet”, e sim buscando, como paciente, esclarecer suas dúvidas. Nesta situação, e procurando sítios de sociedades ou revistas médicas sérias, a Internet será de grande valor e até reforçará a relação médico-paciente, pilar sobre o qual se assenta a medicina exercida com seriedade.
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ISAC JORGE FILHO é Médico, Doutorado em Cirurgia, Professor Universitário e Ex-Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.



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