É importante ressaltar que esta geração procura também, e de
maneira legítima, uma melhor qualidade de vida, uma carga horária que
lhe permita uma conciliação com a sua vida privada, com níveis de tensão
menores, com menos “burn out”, com menos alcoolismo, com menos
drogaditos, com maior reconhecimento profissional, com remuneração
digna, com melhores condições de trabalho e com menos chances, se
tudo isso estiver presente, de incorrer em um erro médico, que pode
destruir a sua vida profissional, o seu patrimônio e, até, a sua vida pessoal.
No Brasil, um jovem cirurgião geral será provavelmente o único cirurgião
de plantão em muitos hospitais e unidades de saúde, mesmo nas grandes
cidades, e resta claro que o tempo atual de formação é insuficiente –
quatorze meses, se descontarmos dos 24 meses os dois meses de férias e
os oito meses de rodízios - e não permite que este jovem assuma sozinho
esse nível de responsabilidade (Santos, 2009)
Um terceiro aspecto, não menos importante, é que todo paciente,
tanto das grandes cidades como do interior do País, merece e tem o
direito de ser tratado por um cirurgião adequadamente treinado (Welch &
Allen, 2008). Merece e tem o direito ao cuidado, ao respeito e à interação
com ele e com os seus familiares, ao respeito aos seus valores e às suas
crenças e, também, à prática dos conceitos fundamentais da ética médica
em toda a sua abrangência.
Para fazer frente a todos esses desafios, o cirurgião precisa manter
como foco de sua atenção central o paciente e suas necessidades. Além
de todo um longo período de formação, fundamental para a aquisição e o
desenvolvimento de suas habilidades técnicas específicas, este
profissional precisa aprender a desenvolver intensamente as chamadas
habilidades não técnicas, cognitivas e interpessoais: liderança,
comunicação, trabalho em equipe, consciência situacional, gerenciamento
do stress e da fadiga, entre outras (Barroso, 2017).
E, finalmente e tão importante quanto, precisa aprender a manter
uma relação médico-paciente ética e dinâmica, ajudando o paciente e
seus familiares nas decisões a serem tomadas para a investigação da
doença e nas situações que envolvam a terminalidade da vida. Precisa
aprender a respeitar a privacidade e autonomia do paciente, observando
todos os preceitos da ética médica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Camargo OP, Leme LEG. Oito anos de graduação em Medicina. Diagn
Tratamento 2011;16(3):123-4.
2. Santos EG. Residência médica em cirurgia geral no Brasil – muito
distante da realidade professional. Rev Col Bras Cir 2009;36(3):271-6.
3. Welch C, Allen C. Surgical precision. Arch Surg 2008;143(11):1040-1.
4. Barroso E. Formação em cirurgia - competências técnicas e não
técnicas. Rev Port Cir 2017;41:5-6.
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