09 setembro 2020

O CIRURGIÃO E SUA FORMAÇÃO NOS DIAS DE HOJE - Gaspar de Jesus Lopes Filho - unifesp

            Vivemos hoje uma sociedade bastante diferente daquela de nossos pais e avós e mesmo dos tempos de nossa própria vida acadêmica. Mudou o perfil do médico e do cirurgião que acabou de vivenciar uma experiência como aluno em um momento em que o aumento exponencial do conhecimento médico torna inviável sob qualquer ponto de vista a aquisição e assimilação cognitiva e as habilidades específicas a serem adquiridas em apenas seis anos de curso letivo, levando à necessidade cada vez mais premente de se estender o curso médico através de programas de residência médica cada vez mais prolongados (Camargo & Leme, 2011). 
             É importante ressaltar que esta geração procura também, e de maneira legítima, uma melhor qualidade de vida, uma carga horária que lhe permita uma conciliação com a sua vida privada, com níveis de tensão menores, com menos “burn out”, com menos alcoolismo, com menos drogaditos, com maior reconhecimento profissional, com remuneração digna, com melhores condições de trabalho e com menos chances, se tudo isso estiver presente, de incorrer em um erro médico, que pode destruir a sua vida profissional, o seu patrimônio e, até, a sua vida pessoal. No Brasil, um jovem cirurgião geral será provavelmente o único cirurgião de plantão em muitos hospitais e unidades de saúde, mesmo nas grandes cidades, e resta claro que o tempo atual de formação é insuficiente – quatorze meses, se descontarmos dos 24 meses os dois meses de férias e os oito meses de rodízios - e não permite que este jovem assuma sozinho esse nível de responsabilidade (Santos, 2009) 
             Um terceiro aspecto, não menos importante, é que todo paciente, tanto das grandes cidades como do interior do País, merece e tem o direito de ser tratado por um cirurgião adequadamente treinado (Welch & Allen, 2008). Merece e tem o direito ao cuidado, ao respeito e à interação com ele e com os seus familiares, ao respeito aos seus valores e às suas crenças e, também, à prática dos conceitos fundamentais da ética médica em toda a sua abrangência. Para fazer frente a todos esses desafios, o cirurgião precisa manter como foco de sua atenção central o paciente e suas necessidades. Além de todo um longo período de formação, fundamental para a aquisição e o desenvolvimento de suas habilidades técnicas específicas, este profissional precisa aprender a desenvolver intensamente as chamadas habilidades não técnicas, cognitivas e interpessoais: liderança, comunicação, trabalho em equipe, consciência situacional, gerenciamento do stress e da fadiga, entre outras (Barroso, 2017).
             E, finalmente e tão importante quanto, precisa aprender a manter uma relação médico-paciente ética e dinâmica, ajudando o paciente e seus familiares nas decisões a serem tomadas para a investigação da doença e nas situações que envolvam a terminalidade da vida. Precisa aprender a respeitar a privacidade e autonomia do paciente, observando todos os preceitos da ética médica. 

                                 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
           1. Camargo OP, Leme LEG. Oito anos de graduação em Medicina. Diagn Tratamento 2011;16(3):123-4.
           2. Santos EG. Residência médica em cirurgia geral no Brasil – muito distante da realidade professional. Rev Col Bras Cir 2009;36(3):271-6. 
           3. Welch C, Allen C. Surgical precision. Arch Surg 2008;143(11):1040-1.
           4. Barroso E. Formação em cirurgia - competências técnicas e não técnicas. Rev Port Cir 2017;41:5-6.

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