CIDADES E RUAS
Sérgio
Roxo da Fonseca
As ruas das
nossas cidades mais antigas foram abertas livremente de conformidade com o
interesse individual de seus moradores. Quase sempre são tortuosas como os
tortuosos eram os caminhos anteriores à sua urbanização.
No início do
século XX, o Brasil e o mundo foram fortemente influenciados pela França. As
cidades passaram a ter um desenho cartesiano, muitas vezes
com quarteirões quadrados e iguais. Os edifícios tinham, quase sempre, cinco
andares, como Paris. Por volta de 1950 consegui minha aprovação como piloto de
monomotor. Os nossos aviões voavam em francês. Todas as cidades grandes passaram
a ter uma avenida copiada de Paris, como a Avenida Rio Branco do Rio de
Janeiro.
Da segunda
metade do século XX até hoje passamos a sofrer a influência determinante dos
Estados Unidos. Os nossos aviões voam hoje em inglês. Os edifícios são
desmesuradamente altos. A concentração de habitantes por metro quadrado
multiplicou-se. Há mais automóveis nas ruas do que almas no purgatório. Pudera,
a aquisição da cidadania é documentada hoje pela compra de um automóvel.
Conheço uma cidade com trinta mil habitantes que se orgulha de ter um edifício tão
alto que deve causar inveja aos nova-iorquinos. Há outras que constroem arranha-céus
no meio de pastos inabitados.
Há cidades
verticais e outras horizontais. O Rio de Janeiro, cercado de morros e mar, é
vertical. Pede edifícios altos. Paris, Brasília e Ribeirão Preto são cidades
horizontais e pedem edifícios mais baixos, evitando a desnecessária
concentração de pessoas e serviços.
Tendo em conta
o grande crescimento da população urbana, especialmente com o êxodo rural,
influenciado pela sua mecanização, a disciplina do crescimento urbano se impõe,
especialmente com referência à ocupação do espaço para que a convivência humana
não se transforme em prenúncio do inferno.
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