06 maio 2017

CIDADES E RUAS - Sérgio Roxo da Fonseca

         CIDADES E RUAS

                   Sérgio Roxo da Fonseca

         As ruas das nossas cidades mais antigas foram abertas livremente de conformidade com o interesse individual de seus moradores. Quase sempre são tortuosas como os tortuosos eram os caminhos anteriores à sua urbanização.
         No início do século XX, o Brasil e o mundo foram fortemente influenciados pela França. As cidades passaram a ter um desenho cartesiano, muitas vezes com quarteirões quadrados e iguais. Os edifícios tinham, quase sempre, cinco andares, como Paris. Por volta de 1950 consegui minha aprovação como piloto de monomotor. Os nossos aviões voavam em francês. Todas as cidades grandes passaram a ter uma avenida copiada de Paris, como a Avenida Rio Branco do Rio de Janeiro.
         Da segunda metade do século XX até hoje passamos a sofrer a influência determinante dos Estados Unidos. Os nossos aviões voam hoje em inglês. Os edifícios são desmesuradamente altos. A concentração de habitantes por metro quadrado multiplicou-se. Há mais automóveis nas ruas do que almas no purgatório. Pudera, a aquisição da cidadania é documentada hoje pela compra de um automóvel. Conheço uma cidade com trinta mil habitantes que se orgulha de ter um edifício tão alto que deve causar inveja aos nova-iorquinos. Há outras que constroem arranha-céus no meio de pastos inabitados.
         Há cidades verticais e outras horizontais. O Rio de Janeiro, cercado de morros e mar, é vertical. Pede edifícios altos. Paris, Brasília e Ribeirão Preto são cidades horizontais e pedem edifícios mais baixos, evitando a desnecessária concentração de pessoas e serviços.

         Tendo em conta o grande crescimento da população urbana, especialmente com o êxodo rural, influenciado pela sua mecanização, a disciplina do crescimento urbano se impõe, especialmente com referência à ocupação do espaço para que a convivência humana não se transforme em prenúncio do inferno.

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