28 maio 2015

CRUELDADE - O ATENTADO AO HEBDO

CRUELDADE

                                                                                            Sérgio Roxo da Fonseca

O mundo ficou abalado com o atentado cometido em Paris por islamitas contra os redatores do jornal humorístico HEBDO que, dias antes, apresentava em sua capa uma caricatura debochada de Maomé.
Percebe-se um conflito entre a posição dos jornalistas assassinados convertidos em símbolos da liberdade de imprensa de um lado, e de outro lado o suposto direito de resposta de pessoas atingidas em sua fé religiosa. É desnecessário dizer que os jornalistas pagaram o maior preço pela solução do caso, ou seja, a sua própria vida. Dias depois o HEBDO, sem fazer humorismo, pediu tolerância e reflexão.
O HEBDO observou que muito embora o caso tenha tido repercussão universal não é único na história crudelíssima dos homens. O HEBDO pergunta o que estaria acontecendo com os nossos jovens? Os assassinos eram jovens franceses descendentes de árabes ou de outras etnias africanas e asiáticas. Há bem pouco tempo a França explorava colônias em outros países.
A mais extensa batalha ocorrida após a Segunda Guerra ocorreu na cidade vietnamita de Dien Bien Phu quando, após cerca de 40.000 mortos, as tropas franceses saíram do Vietnam, antecipando a intervenção norte-americana. Logo depois a França teve que suportar a guerra de independência da Argélia, de 1954 a 1962, travada entre as forças regulares francesas e a população civil argelina. Todos os atos cometidos pelos “pés negros” contra os franceses eram considerados conduta terrorista. Em 1962, após sofrer atentados cometidos por franceses, o General De Gaulle reconheceu a soberania da Argélia, pondo fim à guerra. Essas intervenções em terras estrangeiras trouxeram grande número de imigrantes para a França, importando culturas diversas e conflitos duríssimos entre as novas gerações.
Muito embora sem as mesas características frequentemente alunos das excelentes escolas dos EUA matam seus professores e colegas, aparentemente, sem causa e sem motivação.
A OTAN, Tratado do Atlântico Norte, está intervindo belicamente na Ásia, que, como é sabido, não é banhada pelo Oceano Atlântico.
Os vários textos agora publicados pelo HEBDO insinuam que há necessidade de reflexão e tolerância. Não existem duas nações beligerantes passíveis de negociarem a paz. Onde estaria a raiz dos conflitos, indagam os jornalistas? Sem certeza matemática, insinuam que o problema é educacional. Há que se entender a questão numa amplitude ainda não conhecida por nossa reflexão e por nossa tolerância. O homem do século XXI vive num ambiente cruel. Por que? Por quem?




 

BIQUINE E SANDUICHE - Sérgio Roxo da Fonseca


Há quem afirme com alguma exatidão que a palavra é uma das coisas mais antigas das inúmeras criações do homem, razão pela qual é um dos elementos mais valiosos para estudar a nossa história. A palavra é a mãe da história, pouca coisa se sabe do que ocorreu antes de sua invenção. Alguns dos historiadores mais radicais sustentam que a investigação das palavras revela mais verdades do que a exploração das pirâmides dos Egito.

Sabemos o que significa a palavra “nunca”. Mas nem sempre “nunca” foi nunca, mas, sim, o seu contrário, ou seja, “nunca” já foi “agora”. No final da oração da Ave Maria é dito em latim: “nunc et in horis mortis nostrae”, o que é traduzido por “agora e na hora de nossa morte”. Na conhecida oração o vocábulo “nunc”, em latim, foi traduzido como “agora” para o português. A questão não é isolada, provavelmente, pois todas as palavras carregam consigo vários significados e, com certeza, muitos mistérios ocultos. Como “nunc” que era “agora” para nossos antepassados e hoje é quase o seu contrário.

Os ingleses descobriram algumas ilhas que cercavam outra menor, Foram batizadas com o nome de Ilhas Sandwich. Não sei quem imediatamente teve a ideia de transformar o nome das ilhas no nosso conhecido “sanduiche”. O jeitão das ilhas gerou o nome dos famosíssimos sanduiches que continuam sendo consumidos sem que as pessoas tenham qualquer preocupação com as navegações inglesas.

Nesses dias em que recordamos o final da Segunda Grande Guerra, os melhores canais da TV transmitiram as primeiras e trágicas experiências norte-americanas com a bomba atômica, o que ocorreu em 1946, alguns meses antes do seu lançamento sobre as cidades japoneses de Hiroshima, em 6 de agosto, e, de Nagasaki, em 9 de agosto daquele ano.
As duas primeiras bombas atômicas foram lançadas sobre um atol localizado no sul do Oceano Pacífico. O atol chama-se Bikini. Tinham alguma noção de seus efeitos, mas não de todas as suas consequências.

Conforme o filme documenta, os marinheiros e os cientistas não tinham o domínio dos fatos. As pessoas e os navios submetidos à irradiação foram examinados e mandados de volta para os Estados Unidos, despreocupadamente.

Muitos soldados, após a detonação da bomba, foram até o atol e levaram consigo um punhado da areia como lembrança do fato histórico. Alguns perderam seus braços e outros as suas pernas. Muitos morreram de câncer.

O nome do atol Bikini foi imortalizado porque gerou o vocábulo pelo qual até hoje identificamos a pequena roupa usada pelas mulheres quando vão à praia, seguramente sem irradiar as trágicas consequências das duas bombas lançadas no sul do Pacífico em 1946.



   

DE OLHOS PARA O FUTURO - José Anézio Palaveri


                        “Se choras por teres perdido o sol as lágrimas não te permitirão ver as estrelas”
                                                                                                                                  Tagore
            As lamentações não nos levarão a lugar nenhum... e tem muita gente com saudades do passado.
            Ah! Como era tranquila a aldeia indígena! Menos violência, menos crimes, menos corrupção...
            E nós perdendo as oportunidades que o progresso poderia nos dar para vivermos melhor. Queremos muito para nós e olhamos menos de lado para dar as mãos aos companheiros e vamos correndo de medo, sem tempo para curtir as paisagens, as belezas, as mordomias que as tecnologias poderiam nos proporcionar.
            A competição nos torna tristes e lamentosos. Na profissão, no comércio ou na política olhamos para o próprio umbigo e vamos nos esquecendo dos companheiros de viagem, dos que estamos no mesmo barco.
            Quando fazemos nossas críticas esquecemo-nos das dificuldades e agruras do passado. Num país abençoado vivemos torcendo para que as coisas piorem com nossas críticas que não levam em conta os passos que já foram dados, as dificuldades que já foram superadas.
            Precisamos estar de olhos vivos, mas não embaçados pelas posições políticas, pelos desejos de maldade para os adversários, para que as coisas não dêem certo e eles percam seu prestígio.
            Os que ganharão as próximas eleições nem sabem o que vão herdar se investirem no quanto pior melhor do momento. Há momentos de nos dar as mãos e há momentos de disputas.
            Há momentos de abrir os olhos e olhar ao lado, vendo os que mais sofrem, os que se desesperam, os que perdem as perspectivas de vida, dar-lhes as mãos, sermos mais solidários, no país e no mundo.
            Mostrar o coração que temos, não alimentando o desperdício e as carências. Até as sobras são negadas aos que precisam comer. Alimentos se perdem, são jogados fora em momento de fome mundial.
            Não precisamos atravessar oceanos para sentir a carência de muitos de nossos irmãos. Há entre nós alguns que não conseguem nem uma refeição por dia todos os dias. Alimentam-se nos dias úteis ou nos dias em que encontram alguém que lhes dê alimentos sem menosprezá-lo, sem criticar sua miséria, sua pobreza.
            Olhar para o futuro agradecendo a natureza abençoada, lembrando-nos de cuidar dela. Lamentamos e nos apavoramos com a carência de água e nos descuidamos de olhar com carinho  suas fontes, cuidar da natureza, dos rios, dos lagos e suas margens. Desmatamos para produzir alimentos que sobram nossos supermercados ou em nossas casas e são jogados fora mesmo sabendo que muita gente necessitaria deles para matar a fome.
            Seres inteligentes, tecnologias avançadas e estamos correndo riscos de vivermos pior que antigamente. O passado pode nos dar lições, mas não saudades. Vamos enxugar as lágrimas de nossos olhos para termos uma visão clara de nosso futuro.
                                                           Dr. José Anézio Palaveri, maio de 2015.
                                                           Médico, escritor da APLACE.