13 junho 2014

Luiz Gaetani, Roberto Minczuck, Feres Sabino : Cidadania

O homenageado que homenageou
Feres Sabino*
Se a gratidão é a memória da alma, não foi só a regência da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto,  na celebração de seus noventa anos de vida, que  revelou  o humanismo do maestro Roberto  Minczuck cuja fala sempre o coloca no seio de  sua família e  filhos.   Protagonista, foi homenageado.
Ele narra o seu lugar no mundo, como se fosse um viajante cósmico, que passasse para aprender, ensinar e seduzir  pela musicalidade,  que encontrou o fluxo de sua sementeira, na terra de tantas fronteiras, tantas culturas, tantas línguas. O som coletivo de sua regência, sob a qual homens e mulheres  se dedicam com humildade, emoção, capacidade  e disciplina,  esparrama-se, como um plantio divino, que a mais antiga arte sabe trabalhar, sem limite de tempo e lugar.
 Estava  ali, naquele palco a leveza de sua  “coreografia”  de braços longos e mãos movediças, desenhando no ar as notas e o compasso de tantos instrumentos. A forte  expressão corporal revela o  domínio pleno  da arte amadurecida,  que tem a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, como concausa de seu mérito, num tempo inicial de seu trabalho disciplinado.   Nesse período conheceu dr. Luiz Gaetani, que o tratou como filho, apoiando-o –-- di-lo assim – incondicionalmente, apoiando-o em todos os aspectos, e englobando  nesse carinho  sua própria e toda família. Como um pai para seu filho.
Foi homenageado e veio para homenagear.
Foi  homenageado, pois a marca digital de sua carreira está em muitas lembranças materializadas, tal como a reinauguração do Teatro Pedro II, por exemplo, ou o depósito continuado de esperança na juventude  com o seu – “A Juventude tem Concerto”- , que o tempo se encarregou de esticar, na repetição, que nunca acabou, nem acabará.
Homenageou a orquestra e os amigos dela, a cidade hospitaleira,  que o acolheu,  quando estava , há pouco, na  caminhada de artista da arte de reger uma Orquestra Sinfônica.
Mas, o ponto alto de sua visita teve poucas testemunhas. Uma delas, num fiapo de conversa, comentou o acontecido em três horas de visita ao inesquecível e dedicado  dr. Luiz Gaetani.  Ele se encontra recolhido, em uma casa de repouso,  onde  ou descansa  em algum sonho definitivo de sua vida, ou remove na mente inerte a lembrança  dos  benefícios que trouxe à cidade de seu coração, ou, quem sabe, retorna à realidade, como um meteoro, para rever ,  assim rapidamente,  a Orquestra que foi o culto de sua dedicação e trabalho, por  anos e anos a fio, como seu Presidente,  de 1976 a 2000.
Roberto    Minczuck   aprofunda e revela a essência do seu ser, nessa visita   ao homem que nele acreditou, e  que tanto o prestigiou. Ele ficou  sentado ali, por três horas, de mãos dadas, conversando com seu monólogo, desejando que o amigo o compreendesse, ou que  desse a ele, ao menos,  a ilusão de uma só resposta, ou a ilusão de um só gesto, de um sorriso  quiçá,  forçando esquecer aquele olhar vidrado às vezes,  esperando, com ânsia contida, que conseguisse medir o sentido da sua presença fraterna , a gratidão aprisionada pelo não-sentir, nem ouvir, nem o não-responder do amigo doente.
O silencio foi umedecido pelas lágrimas do Maestro vitorioso.

Foi assim que o homenageado homenageou.

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