11 abril 2014

Saúde, Bioética e Cidadania: DOENÇAS OCUPACIONAIS

                          DOENÇAS OCUPACIONAIS

                        Sérgio Roxo da Fonseca

            A doutrina classifica as doenças dos trabalhadores em duas categorias: doenças profissionais aquelas próprias de cada profissão e doenças do trabalho como aquelas que atingem qualquer atividade quando se o trabalhador é submetido às condições especiais e excepcionais do trabalho árduo. Na segunda categoria, há necessidade de ser demonstrado o vínculo entre o trabalho árduo e a incapacidade. Na primeira categoria, o vínculo é presumido.
            As doenças resultantes de epidemias e endemias não eram indenizadas. Coube ao Ministério Público paulista encontrar solução, dentro do quadro legal. Se um trabalhador era submetido às condições especiais do trabalho árduo e contraia ou era agravada uma doença epidêmica ou endêmica teria cabimento à indenização. Dois fatos históricos ilustram a época.
            Houve a eclosão de uma epidemia de meningite, por volta de 1970. Se um enfermeiro, submetido às condições árduas de seu trabalho, contraia a doença, tinha direito à indenização.
            O mesmo ocorria com o chagásico. Se a sua incapacidade ou morte eram resultantes de uma prestação imprópria ao seu estado de saúde, era de ser concedida a indenização.
             No passado, dois grandes vultos abriram os caminhos para este estudo. O italiano Ramazzini, 1713, e, o inglês Percival Pott, 1775. As observações destes grandes vultos levaram à conclusão segundo a qual as origens das doenças poderiam estar em causas externas, ensejando o aparecimento da medicina preventiva. Até então, acreditava-se que as condições internas do corpo humano geravam os estados mórbidos.
            Pott teve a sua atenção atraída pelo significativo número de cânceres encontrados entre as crianças e adolescentes empregados na limpeza das chaminés de Londres. O câncer atingia os órgãos genitais daqueles jovens. Seria possível afirmar que a fuligem do carvão, portanto, uma causa externa, seria a causa dos tumores nos órgãos genitais dos trabalhadores? Se positiva a resposta, a eliminação da causa externa seria a atuação mais eficaz para o combate à doença.
            Naquela época, as crianças eram vendidas em Londres para os responsáveis pela limpeza de chaminés. Como diz Mukherjee, em “Uma Biografia do Câncer”. Cerca 1.100 crianças com menos de 15 anos, por volta de 1851, trabalhavam na limpeza de chaminés: “Quero um aprendiz, dizia Gamfield, o sinistro limpador de chaminés de “Oliver Twist”, de Charles Dickens. Por um estranho golpe de sorte Oliver escapa de ser vendido para ele, que já despachara dois aprendizes para a morte por asfixia nas chaminés”. Os fatos alteraram a história em pelo menos dois planos.
            Por primeiro, admitiu-se que as doenças poderiam ser causadas por fatores externos, ensejando o aparecimento da Medicina Preventiva.

            Por segundo, comprovou-se que as empresas perigosas não somente causavam riscos a seus trabalhadores, mas também ao seu próprio empreendimento.

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