11 fevereiro 2015

PENA DE MORTE - Sérgio Roxo da Fonseca

PENA DE MORTE


Sérgio Roxo da Fonseca

O cristianismo alterou a aplicação de penas. Antes da Idade Média tudo era resolvido aplicando-se a pena de morte. Não havia cadeia. É bem verdade, que, inicialmente foram criados os juízos de Deus, acreditando-se que a atuação divina podia atuar suspendendo torturas quando se tratava de réu inocente. Eram as ordálias.
 Um exemplo clássico era exigir que o acusado mergulhasse a mão numa panela com azeite fervendo. Se fosse inocente, com certeza, Deus iria intervir evitando qualquer espécie de queimadura. Há relíquias desses juízos até hoje. Em vários países, se o carrasco, no primeiro momento, não consegue matar o réu, a pena de morte é suspensa. Foi Deus que absolveu, afirmam.
Durante a Idade Média, padres cristãos passaram a recolher-se em monastérios, permanecendo em suas celas, fazendo penitências para salvar a humanidade. Os livros ensinam que as celas dos monges e suas penitências deram origem às penitenciárias.
Mesmo assim a pena de morte perdura em vários países, mesmo em tempo de paz. Dois casos exemplificam sua aplicação. Os dois exemplares ocorreram nos Estados Unidos.
O primeiro refere-se à condenação e execução na cadeira elétrica de dois operários italianos, Sacco e Vanzetti, acusados de homicídio. Foram executados em 1927 mesmo após outra pessoa inocentá-los. Cinquenta anos após a aplicação da pena de morte, foi reconhecida a sua inocência pelo governo norte-americano do Estado de Massachussetts.
O segundo caso traz a exame o processo e a condenação de um casal judeu de Nova York acusado de transmitir segredos de Estado ao governoda União Soviética. Eram comunistas. Contra a execução, houve a manifestação de várias personalidades, entre as quais o Papa Pio XII, Einstein, Brecht e Fritz Lang. O presidente Eisenhower negou-se a comutar a pena que foi executada na Penitenciária de Sing Sing em 1953. Julius Rosenberg morreu ao sofrer a primeira descarga elétrica. Ethel, sua esposa, foi sometida a três descargas antes do óbito. As testemunhas do ato registraram que Ethel somente morreu após sair fumaça de sua cabeça.
O escritor norte-americano Truman Capote condenou em obra prima a perna de morte, afirmando que quando o Estado a aplica, mata cruelmente a sangue frio. O seu livro, que foi filmado, chama-se, não por acaso, “A Sangue Frio”.
As execuções noticiadas recentemente na Ásia espantam o homem civilizado. Não se pune o criminoso porque pecou. Nem mesmo para que não peque mais. Mas sim porque pecou e para que não peque mais. A pena de morte nega o avanço da civilização, equiparando as autoridades aos criminosos. Muitas vezes, ao contrário do Estado, há criminosos que não matam a sangue frio.

   

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

                    Assim caminha a humanidade
                                                           Falarei do bicho homem ou do amor de Deus?
            “Senhor, que é o homem para dele assim vos lembrardes e o tratares com tanto carinho? “
            A glória e o esplendor do homem. Vou meditando o salmo 8, apavorado com a realidade que vejo estampada nas telas das televisões...
            Um bebê de dias, abandonado numa sacolinha, ainda com o cordão umbilical, num túmulo de um cemitério. Graças a um pedreiro que trabalhava por lá,  que ouviu seus gemidos, foi salvo  e cuidado com carinho.
            No meu sítio, uma cachorra ficou sem dono dois dias depois de dar à luz seus três cachorrinhos. Abandonada, não abandonou seus cachorrinhos, permaneceu de plantão, protegendo-os, de plantão, sobrevivendo com os recursos da natureza e com a piedade de alguns seres humanos. Nem um dia vi os cachorrinhos desprotegidos. Alimentava-os. Procurava alimento para sobreviver. Parecia orgulhosa de sua maternidade e agasalhava seus filhos com carinho.
            Vejo reféns mortos, degolados, incendiados em celas, em várias partes do mundo. Mortes televisivas, querendo demonstrar o que poderão fazer se não forem respeitados em seu terrorismo, e ódio. Trocas de reféns, de prisioneiros, prometidas e pessoas humanas usando outras pessoas como escudos de seu terrorismo e ideologias.
            Iria escrever sobre a indignidade do bicho homem, sua agressividade e maldade, mas o salmista, cantando suas alegrias sobre o amor de Deus e a dignidade a que o ser humano foi elevado por Deus me animou e me fez mudar de ideia.
             E de novo vejo  o terrorismo, dando desculpas ou  inspirado em seus gurus, líderes e fundadores, transviados em suas mentes, sacrificando pessoas, dizendo que estão se defendendo, e agridem , e matam, e se esquecem de negociar, de sentar na mesa para discutir ideias, e se esquecem do valor de suas vidas e das dos outros. Tento pensar e entender o que pode estar passando pela cabeça de um homem bomba!...
            Uns curam outros cuidam, outros matam, outros falsificam medicamentos, vendem drogas mortíferas para alimentar seus lucros e poder. Prometem  curas com produtos falsificados, enganam e roubam colocando vidas em risco. E vidas de seres humanos iguais a eles.
            E saber que Deus nos trata com tanto carinho, com privilégios, de inteligência, imaginação, capacidade de amar e de nos emocionar.
            E me pergunto quando estou rezando: Quando vamos nos convencer de que nossa dignidade é infinita, de que todos temos valores incalculáveis, de que daria para ser diferente se fôssemos menos egoístas, mais solidários, e tivéssemos a coragem de ouvir a voz de Deus, darmos as mãos e vivermos como irmãos, filhos muito amados do mesmo pai?
            E vejo tantos gestos de humanidade no cotidiano da vida. Pessoa simples cuidando de outras pessoas, pobres solidários com pobres, hospitais habitados por seres de coração...
                                                           Dr. José Anézio Palaveri, fevereiro de 2015.
                                                           Médico, cronista da APLACE.

Resposta rápida

13 setembro 2014

O MÉDICO COMO CORRETOR
                                                                                            ISAC JORGE FILHO 

          Está cada vez mais difícil ser médico neste País. Não bastassem as péssimas condições de trabalho a que muitos são submetidos, a remuneração aviltante, imposta à maioria dos colegas, a falsa e perigosa noção de “profissão liberal” que querem nos impingir, que de liberal tem apenas a falta das vantagens sociais do emprego, o que propicia a exploração por parte dos intermediários da prestação de serviços médicos, de uns tempos para cá surge uma nova forma de explorar o trabalho do médico, agora como corretor ou propagandista de diferentes tipos de empresas. O pior é que isto é feito de maneira dissimulada, querendo fazer crer ao colega de que ele está participando de um belo serviço social em benefício dos mais carentes. E o colega embarca na conversa, não percebendo que está sendo usado. É assim com os chamados “cartões de desconto” em que o médico acaba trabalhando por valores mais baixos sob o argumento de que isso lhe trará mais pacientes e o argumento hipocritamente “social” de que está beneficiando pacientes que, de outra forma, não teriam acesso às consultas. Laboratórios de medicamentos usam médicos como corretores de seus produtos ao deixarem nos consultórios impressos com orientações dietéticas ou de outros tipos, acompanhadas do nome do produto correlato ou de propaganda da empresa. Pior ainda é quando deixam selos ou bônus de descontos que, se forem apresentados em determinadas farmácias, permitirão desconto no preço do medicamento. O colega, mais uma vez embarca na jogada, não percebendo que está sendo usado como corretor do laboratório e da farmácia, não pensando que, se é possível dar o desconto, porque não dar a todos, mas apenas aos que levarem o bônus. Não percebe que está sendo usado para um
procedimento que nada mais é do que o da concorrência comercial. 
Ao perceber a ingenuidade do médico em se prestar ao trabalho de corretor empresas de outras áreas resolveram também fazer uso do mesmo expediente. Acabo de receber consulta de colega com relação a um documento enviado para médicos propondo que intermediem a indicação da empresa para pacientes que queiram fazer financiamentos para tratamentos ou operações. Como vantagem informam que o paciente poderá parcelar seus pagamentos à empresa e o médico receberá à vista, sem nenhum desconto. Tanta “bondade” emociona. Mas, porque colocar o médico como intermediário? Se a "benemérita" empresa, que pensa altruisticamente nos pacientes que não podem arcar com as despesas médicas, quer fazer sua benemerência que trate diretamente com os pacientes por meio da propaganda de seus financiamentos e não utilizando o médico "credenciado" como propagandista, e, portanto, interagindo com a empresa comercial. 

Veja, nesta frase, extraída da mesma proposta citada acima, como se "compra" um médico: "Outros benefícios poderão ser negociados, dependendo do volume de pacientes/clientes INDICADOS PARA CONTRATAÇÃO DE FINANCIAMENTOS " Ou seja, viramos corretores de empresas de financiamento. 
O pior de tudo é que esta proposta girou pela Internet a partir da reação indignada de um colega que recebeu várias manifestações de apoio, mas algumas achando que não há nada demais, já que vai facilitar a vida de alguns pacientes e beneficiar o médico, se esquecendo do artigo 9º no Código de ética Médica: " A Medicina não pode, em qualquer circunstância ou de qualquer forma, ser exercida como comércio". 
         Nesse ritmo, se não nos indignarmos e reagirmos, logo teremos uma disputa comercial entre os “times” de médicos ligados a diferentes empresas, ou contratados por elas, lutando pela conquista do “mercado”, já que “mercado” é aquilo em que muitos querem transformar a milenar e linda ciência/arte que é a Medicina. 


30 agosto 2014

ANEGLITOS NEGROS - SÉRGIO ROXO DA FONSECA - Cidadania

ANGELITOS NEGROS

Sérgio Roxo da Fonseca

Na década de cinquenta a música “Angelitos Negros” fez muito sucesso no Brasil. Era cantada em espanhol. Exortava os artistas a pintarem anjos negros, ainda que a Virgem Maria seja branca. No Brasil é venerada uma virgem negra, a Nossa Senhora de Aparecida. Ainda assim o argumento prevalece, não percebemos anjos negros em nossas igrejas.
O poema lembra que os negros também vão ao céu, não apenas os brancos, daí resultando a necessidade de se pintar anjos negros.
O tema vem à memória em razão do conflito racial ocorrido nos Estados Unidos, palco da morte de um rapaz acusado de ter furtado alguns cigarros. Diz o noticiário que levou seis tiros do policial. Com certeza não vai ser o último episódio de um filme muito antigo no qual os índios e negros sempre figuraram como bandidos perigosos para os brancos.
Mas há um contra-argumento. O presidente norte-americano é negro. Há alguns anos atrás, o principal chefe militar daquele país era mulato. Os restaurantes de lá recebem cada vez mais pessoas denominadas “de cor”.
Muito embora o Brasil proclame ser um exemplo de convivência racial, o mesmo aqui não ocorre. Já tivemos um mulato na Presidência da República, mesmo assim para cumprir um mandato tampão. Mas negro, não.
Dificilmente encontramos negros exercendo profissões universitárias. Assim médico, engenheiro, juízes, promotores, diplomatas, invariavelmente são brancos.
Fenômeno semelhante se passa em nossos restaurantes nos quais raramente se percebe a presença de negros. O contrário ocorre, com certeza, em nossas prisões. Há uma discriminação silenciosa no Brasil muito maior do que nos Estados Unidos.
O contraste entre o panorama norte-americano e o brasileiro, exige que se faça uma avaliação do que ocorre em nosso país. Falta muito trabalho para que se possa dizer que somos um exemplo de convivência racial. Precisamos pintar anjos negros em nossas igrejas, retirando-os das grades de nossas prisões.