O GALO DE BARCELOS
Sérgio Roxo da
Fonseca
Os portugueses têm uma cultura tão extensa como os quatro
pontos cardiais. Talvez a mais rica de todas as culturas porque descobriram o
mundo para o mundo. A água é salgada de tanto as mulheres dos navegadores
derramarem suas lágrimas em suas praias, segundo o testemunho de Pessoa que
conseguiu ir além do Bojador.
Trouxeram para
o ocidente as pimentas que habitavam as terras da Índia. Uma delas foi batizada
com o nome perpétuo de Pimenta do Reino de Portugal.
O Galo de
Barcelos é um dos mais antigos mitos. Há várias versões sobre ele que hoje
ainda vive nas toalhas de mesa, nas cortinas, nas vestimentas e nos livros e
mais livros. Há tantas versões que é a história é um não acabar.
Os islamitas
dominaram a Península Ibérica durante longos séculos. Transmitiram para a nossa
cultura um tesouro de palavras e costumes. Lisboa, que um dia foi a cidade de
Ulisses, o grego, “Ulissesponensis”, teve seu nome reduzido para a Lisboa de
hoje, filtrado pela pronúncia dos árabes. Mas são tantas as ligações, que, para
os católicos, Nossa Senhora apareceu para três meninos num sítio em Fátima,
tornando-se Nossa Senhora de Fátima, para aproximar os cristãos dos muçulmanos,
segundo as sábias palavras de um Papa.
Como os árabes
tinham o dever de visitar Meca uma vez na vida, os cristãos passaram a ter o
dever de peregrinar até Santiago de Compostela.
Um
portuguesinho que para lá caminhava, dormiu na cidade de Barcelos, onde acabou
sendo preso e condenado pela prática de um crime que não cometera. No momento
de sua execução, o carrasco deu-lhe o direito de indicar seu último desejo.
Quero falar com o juiz, revelou.
Último desejo
deve ser obedecido até mesmo pelo juiz que,
naquela hora, almoçava um frango
assado, mesmo tendo a breve oportunidade
para declarar que mantinha a decisão.
O portuguesinho
proclamou que, se fosse inocente, Deus
ressuscitaria o galo assado do juiz, imediatamente, ressuscitou, dando
um pulo do prato do magistrado, pondo-se a cacarejar pela sala. Tendo em conta
a força do milagre, o pobre homem foi imediatamente absolvido. Em sequência o
portuguesinho continuou a sua peregrinação até Santiago de Compostela, sem
perceber que está escrevendo uma das páginas mais queridas do povo de sua terra.
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