07 fevereiro 2007

COMO AVALIAR O PROFISSIONAL DE NÍVEL SUPERIOR QUE PRESTA SERVIÇO À COMUNIDADE?

Blog do Isac

J. SÉRGIO MARCHINI *
Há uma semana, em uma reunião da Comissão de Avaliação do programas e Pós-Graduação da Universidade de São Paulo, o representante do setor da Pós-Graduação da Faculdade de Medicina de São Paulo contou o seguinte. Um de seus pacientes, que o procurava pela primeira vez, ao entrar para ser consultado, mostrou-lhe o seu Curriculum Lattes. Entre surpreso e curioso ele indagou o que era tal documento. O paciente calmamente explicou que antes de decidir qual médico procurar, e com as facilidades da "Internet" decidira procurar as qualificações do médico antes de se submeter à consulta. Segundo o paciente o Curriculum Lattes lhe proporcionava tal resposta. Desta maneira imprimiu o curriculum e o leu, ficando satisfeito, resolveu finalmente se submeter a consulta.

Creio que este fato ilustra muito bem a dificuldade de se qualificar -ou pesar o médico em questão. Examinar atentamente, avaliar pessoas, não são tarefas simples. Em geral o processo de avaliação é feito tanto pelo grupo de pessoas do mesmo local do avaliado (avaliação interna), como por grupo de pessoas de outros locais (externa). Um exemplo de avaliação externa é aquela feita pelos pacientes de um médico, recomendando-o, ou não, a seus familiares e conhecidos.

Tomemos um outro exemplo, a avaliação dos graduandos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, onde são formados, entre outros cursos, por ano, cerca de 100 médicos, 500 residentes, 200 mestres e 150 doutores. Os residentes fazem um curso identificado como "lato sensu", no qual são exigidos o aperfeiçoamento em técnicas de atividade profissional, ou seja, necessárias para o atendimento médico especializado. Nem todos os médicos fazem residência, mas aqueles que se interessam por um ramo específico e particular da medicina, necessitam passar por ela. Analogamente, creio que seria desejável que outros profissionais tivessem treinamentos equivalentes.

Quanto aos Mestres e Doutores, nas áreas de saúde, ou mesmo, médica, não se exige que a graduação em medicina. Desta maneira, estes títulos não têm a competência profissional de atendimento médico. Assim, podemos ter um engenheiro envolvido com intricado mundo das, por exemplo, redes neurais, ou um nutricionista, na pesquisa da interação de diferentes nutrientes em uma alimentação específica, titulados como Pós-Graduando. Do mestre, e principalmente do doutor, exige-se a produção e transmissão (divulgação) do conhecimento produzido.

Paralelamente e considerando que a função da Universidade pública está apoiada no tripé de ensino, pesquisa e extensão de serviço à comunidade, espera-se que, for exemplo, a FMRP USP não seja responsabilizada pela solução de todos os problemas de saúde, quiçá de alguns, mas definitivamente, ela é importante na formação de pessoal e sendo tal deve ser continuamente avaliada e cobrada.

Particularmente, em relação à formação de Mestres e Doutores, dita Pós-Graduação "stricto sensu", os meios de avaliação da sua qualidade são feitos tanto por comissões internas como externas a Universidade. A interna é realizada pela aprovação dos alunos em cursos que envolvem aspectos metodológicos, pedagógicos e éticos, além de exame de qualificação e a defesa pública do resultado final. Friso público, por ser aberta a qualquer interessado e a todos que queiram presenciá-la. Esta defesa ocorre ao final do trabalho e é julgada por uma banca apropriada. Esta deve ter entre seus membros representantes de Instituições externas a FMRP USP (em 2005 a FMRP formou 181 mestres e 110 doutores e em 2006 (até o final de novembro), respectivamente 184 e 143).

E quanto à avaliação externa? Esta é feita de maneira criteriosa por comitê específico designado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e repetida trieanualmente. São constituídos diferentes comitês, com pesquisadores brasileiros de reconhecida competência que tem como tarefa não são comparar os cursos brasileiros, mas também, e talvez o mais importante, confrontá-los com seus congêneres internacionais.

A FMRP USP, nos seus 16 programas é avaliada com nota máxima em 25% do mesmo, como muito bom em 19%, todos qualificados como de padrão internacional. Outros 31% são classificados como nota máxima para padrão nacional, atestando a alta qualidade dos programas de ensino na faculdade e pelo qual ela deve ser constantemente cobrada.

Por fim, e o Curriculum Lattes referido no início? Este é um dos instrumentos, elaborado e administrado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no qual todas informações dos pesquisadores brasileiros são catalogadas, documentadas e sob auditoria. Ele se presta como veículo de informação acadêmica. Será que também poderia ser usado pela sociedade em geral para avaliar seus profissionais?
Quem sabe o paciente acima não esteja exercendo ao mesmo tempo um processo de avaliação externa do médico por meio de uma ferramenta acadêmica. E este fato seja o marco de um novo processo de avaliação social dos profissionais prestadores de serviço.

* PROFESSOR DE CLÍNICA MÉDICA (NUTROLOGIA) DA F.M.R.P.U.S.P.
MEMBRO DA CÂMARA TÉCNICA DE NUTROLOGIA DO CREMESP

Um comentário:

Anônimo disse...

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