ANGELITOS NEGROS
Sérgio
Roxo da Fonseca
Na década de
cinquenta a música“Angelitos Negros” fez muito sucesso no Brasil. Era cantada
em espanhol. Exortava os artistas a pintarem anjos negros, ainda quando a
Virgem Maria seja branca. Paradoxalmnte no Brasil é venerada uma virgem negra,
a Nossa Senhora de Aparecida. Na Espanha também. Ainda assim o argumento
prevalece, não percebemos anjos negros em nossas igrejas.
O poema
lembra que os negros também vão ao céu, não apenas os brancos, daí resultando a
necessidade de se pintar anjos negros.
O tema vem à
memória em razão do conflito racial ocorrido nos Estados Unidos, palco da morte
de um rapaz acusado de terfurtado alguns cigarros. Diz o noticiário que levou
seis tiros do policial. Com certeza não vai ser o último episódio de um filme
muito antigo no qual os índios e negros sempre figuraram como bandidos
perigosos para os brancos.
Mas há um
contra-argumento. Mas já elegeram um negro para presidente dos Estados Unidos.
Formado em Harvard. Há alguns anos atrás, o principal chefe militar daquele
país era mulato. Os restaurantes de lá recebem cada vez mais pessoas
denominadas “de cor”.
Muito embora
o Brasil proclame ser um exemplo de convivência racial, o mesmo aqui nem sempre
ocorre. Já tivemos um mulato na Presidência da República, mesmo assim para
cumprir um mandato tampão. Mas negro, não.
Dificilmente
encontramos negros exercendo profissões universitárias. Assim médico,
engenheiro, juízes, promotores, diplomatas, invariavelmente são brancos.
Fenômeno semelhante
se passa em nossos restaurantes nos quais raramente se percebe a presença de
negros. O contrário ocorre, com certeza, em nossas prisões. Há uma discriminação
silenciosa no Brasiltalvez maior do que nos Estados Unidos.
O contraste
entre o panorama norte-americano e o brasileiro, exige que se faça uma
avaliação do que ocorre em nosso país. Falta muito trabalho para que se possa
dizer que somos um exemplo de convivência racial. Precisamos pintar anjos
negros em nossas igrejas, retirando-os das grades de nossas prisões.