12 junho 2016

ESTA NÃO É A PONTE DE POTTER E DA BIOÉTICA

ESTA NÃO É A PONTE DE POTTER E DA BIOÉTICA
                                                                           Isac Jorge Filho*

Van Rensselaer Potter, brilhante oncologista norte-americano, foi o primeiro a utilizar o termo “Bioética”. Seu livro “Bioethics: a bridge to the future” (Bioética: a ponte para o futuro) marcou o início de uma era de estudos voltados para a vida e o bem-estar. É espantoso que exatamente o título do livro de Potter tenha sido utilizado, sem nenhuma citação de autoria, por um grupo de políticos. A verdade é que, cada vez mais, nos surpreendemos com o nível da maioria deles, independente do partido a que pertençam. Usar frase dos outros, sem citar a autoria, certamente é “café pequeno” para essas figuras.
Acabo de receber um editorial da Sociedade Brasileira de Bioética, de autoria de sua presidente, Regina Parizi de Carvalho, mostrando a revolta dos bioeticistas brasileiros ao ver usurpada uma frase-símbolo da Bioética.
Vale a pena divulgar “in totum” esse editorial:    
Vivemos em tempo de turbulências, de crise ética e política de uma dimensão sem precedentes, no que se refere à manipulação das informações e ao número de pessoas envolvidas. O mundo chocado assiste e se manifesta sobre a crise econômica, politica e moral que abate o Brasil.
 As pessoas e as entidades mostram- se atônitas com o desenrolar de fatos marcados pela corrupção, tramas diabólicas, perseguições, acusações sem evidencias, entre outras questões; que revelam a falta de respeito e de compromisso com a sociedade, sobretudo, de membros da classe política envolvida com setores financeiros e empresariais.
 A crise, no entanto, revela hoje a sua face mais cruel, pois com a assunção do governo interino, surge a nova proposta de governança “de uma ponte para o futuro”, calcada em medidas restritivas e de desconstrução dos direitos sociais na saúde, educação, cultura, entre outros.
 Nada poderia ser mais irônico para a área da Bioética, que nasceu do “imperativo” de Potter, de que o futuro deveria ser baseado em condutas e políticas fundamentadas na autonomia, na solidariedade, e na responsabilidade para com as gerações atuais e futuras e com nosso planeta.

Hoje, ao contrário do fator desencadeador da crise política, não há compromisso em combater a corrupção e será a sociedade que pagará o preço da crise neoliberal, de globalização da economia, iniciada em 2008 nos países mais ricos e que, desde então, vem se espraiando aos demais países.
 Do remédio que não funcionou aumentar a dose. Ampliando o projeto neoliberal de desconstrução dos direitos e da regulação ético-institucional, como o PL 200/2015, que propõe a retirada do controle da sociedade sobre as regras éticas das pesquisas com seres humanos.
 Das epidemias e endemias, isolar o país ou a região, como aconteceu com a África recentemente e agora com o Brasil, na epidemia do Zika e as Olimpíadas. Isto, em vez de aumentar esforços financeiros, científicos e sanitários para beneficiar a totalidade da população local e internacional.
 Assim, associados e militantes da bioética, independente de concepções político-partidárias, temos o irrenunciável papel nos debates e lutas pela manutenção e avanço de medidas éticas comprometidas com uma sociedade justa e solidária.

 Contamos com vocês!