MÁQUINA
DE FAZER DOIDOS”
Isac Jorge Filho
Era assim que o saudoso Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)
apelidava a televisão. O Sérgio se foi, a televisão ficou...e está cada vez
pior. Vale tudo em troca de um ponto de audiência. E tome bacanais organizados
em nível nacional, como o BBB, onde se discute se uma relação sexual,
apresentada para todo o País (e como dizem, orgulhosamente, para outros países
do mundo), foi consentida ou não. E tome programa com manifestações de
violência que querem nos impingir como “esporte”, com lutas do antigo “vale
tudo”, que agora recebem nomes sofisticados, sempre vindos dos nossos
exemplares e pacíficos irmãos do hemisfério norte. Na entrevista de um dos
lutadores (que famoso comentarista de uma das emissoras chama de ‘gladiadores
modernos’) perguntaram se ele sentia prazer em “bater na cara” do adversário.
Resposta: “É meu trabalho. Ou eu bato ou ele me bate”. É esse o recado mandado
para toda a grande colcha de retalhos que é o Brasil.
O que se esperaria é que, contrapondo essa agressão televisiva
de moral e ética no mínimo discutível, os segmentos culturalmente mais
avançados, que pelo menos devem saber, ler, escrever e analisar valores, procurassem
dar exemplos. Infelizmente não é isso o que vemos. Vejamos o que acontece quando
milhares de jovens chegam à Universidade. É um espetáculo deprimente que se
repete a cada vez que são divulgados os resultados dos vestibulares. Futuros
profissionais de nível universitário assumem papéis lamentáveis e recebem seus
novos colegas com calorosas manifestações...de selvageria. O que devia ser
momento de alegria pela recepção dos novos colegas se transforma em
manifestação bestial de desamor ao próximo. As notícias resultantes dessa
“recepção” frequentemente são trágicas: é o calouro que morreu afogado, é o
outro que ficou cego, é o que sofreu trauma craniano, é o que teve queimaduras
pelo corpo... é um circo de horrores perpetrados pelos que deviam ser a elite
cultural do país. E estamos falando de jovens que tiveram o privilégio de serem
universitários em meio a analfabetos e semi-alfabetizados. Que fazem parte
daqueles que receberam mais, em um país onde a regra é receber menos.
Futuros médicos, agora ainda calouros, tomam goles e goles de
bebidas alcoólicas enquanto ocupam os pontos onde mendigos pedem moedas, nos
cruzamentos das ruas. Chama atenção o número de representantes do sexo feminino
tomando vodca, que é a bebida destilada preferida “porque não deixa cheiro e
não dá celulite”(???)). Leio na mídia local e nacional que calouros da
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo divulgaram
nota de repúdio aos trotes que veteranos lhes aplicam e que incluiriam o total
absurdo de que as calouras seriam obrigadas a exibir-se nuas e prometer sexo aos veteranos. Vejam que estamos
falando de futuros advogados da mais importante Universidade do País. Esta é a
elite. O que se pode esperar de outros, que só tem como orientadores programas
televisivos de demonstrações de sexo e violência? Ou será que são esses mesmos
telespectadores que chegaram à Universidade e estão levando para ela o
brilhante aprendizado de anos diante dos “professores” que dão aulas e exemplos
na “máquina de fazer doido”. Afinal, as novelas estão aí, com claros modelos do
que consideram “valores” modernos: corrupção, infidelidade, violência e tantos
outros.
É coisa séria para
nossa Universidade pensar. Será que a atual maneira de selecionar
universitários, especialmente aqueles pagos com dinheiro público, está correta?
Se estiver, será mais coerente que a escolha se faça em programas de auditório.